Manipulação - a arte de fantasiar a realidade para ocultar o exercício do poder
O Le Monde Diplomatique disseca
a crise no Brasil. De fato, trata-se de uma sofisticada análise das forças que governam a política do país e
que bem poderia ter por título "O poder invisível e seu exercício".
Eis, em 13 parágrafos, essa precisa
anatomia [do neocolonialismo]:
1 – O foco do poder não está na política, mas na economia. Quem comanda a sociedade é o complexo financeiro-empresarial [sujeito político: centro
decisório] com dimensões globais [abrangência:
destinatários] e conformações específicas locais [aliança colonial, subalterna e antinacionalista].
1.1
– Os donos do poder não são os políticos. Estes são
apenas instrumentos dos verdadeiros donos do
poder.
2 – O verdadeiro
exercício do poder é invisível. O
que vemos, na verdade, é a construção planejada
de uma narrativa fantasiosa com aparência de realidade para criar a sensação de participação consciente e cidadã dos que se informam pelos meios de
comunicação tradicionais.
2.1
– Os grandes
meios de comunicação não se constituem mais em órgãos de “imprensa”,
ou seja, instituições autônomas, cujo objeto é a notícia, e que podem
ser independentes ou, eventualmente, compradas ou cooptadas por
interesses. A grande mídia é,
atualmente, grandes
conglomerados econômicos que também compõem o complexo financeiro-empresarial que comanda o poder invisível. Portanto, participam do exercício invisível do poder
utilizando seus recursos de formação de consciência e opinião (manipulação coordenada por um centro unificador).
3 – Os donos do poder não apoiam partidos ou políticos
específicos. Sua tática é apoiar quem lhes convém e destruir quem lhes estorva.
Isso muda
de acordo com a conjuntura. O exercício real do
poder não tem partido e sua única ideologia é a supremacia do mercado, do lucro, dos juros e dos dividendos.
3.1
– O complexo financeiro-empresarial global pode
apostar ora em Lula, ora em um político do PSDB, ora em Temer, ora em um aventureiro qualquer da política.
E pode destruir qualquer um desses de acordo com sua conveniência.
3.2
– Por isso, o exercício do poder no
campo subjetivo, que é responsabilidade da mídia corporativa, em um momento demoniza Lula, em outro Dilma, e logo depois
Cunha, Temer, Aécio, etc. Tudo faz
parte de um grande jogo estratégico com
cuidadosas análises das
condições objetivas e subjetivas da conjuntura.
3.3
– O complexo financeiro-empresarial não tem opção partidária, não veste nenhuma camisa na política, nem
defende pessoas. Sua intenção é tornar as leis e a administração do país totalmente favoráveis para suas metas de maximização dos
lucros.
4 – Assim, os donos do
poder não querem um governo ou outro à toa: eles querem,
na conjuntura atual, a reforma na
previdência, o fim das leis
trabalhistas, a manutenção do congelamento do orçamento primário, os cortes de gastos sociais para melhorar o serviço da dívida, as privatizações e o alívio dos tributos
para os
mais ricos.
4.1
– Se a conjuntura
indicar que Temer não é o melhor para isso, não hesitarão em rifá-lo. A única coisa que não querem é que o povo brasileiro decida sobre o
destino de seu país.
5 – Portanto, cada notícia é um lance no jogo. Cada escândalo é um movimento tático. Analisar a
conjuntura não é ler notícia. É especular sobre a estratégia
que justifica cada movimento tático do
complexo financeiro-empresarial (do qual a mídia faz parte), para poder reagir também de maneira
estratégica.
6 – A queda de Temer pode ser uma coisa boa. Mas é um movimento tático em uma estratégia mais ampla de quem comanda o poder. O que realmente importa é o que virá
depois.
7 – Lembremo-nos: eles
são mais espertos. Por
isso estão no poder."
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fonte: Le Monde –Diplomatique
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