3I-ATLAS a terceira das sete cabeças na hipótese cósmica da profecia de João

 


Por José Berlange Andrade

A tradição religiosa — judaico-cristã em especial — sempre leu profecias escatológicas (Daniel, Isaías, Ezequiel, Apocalipse) de forma antropocêntrica e histórica, associando-as a impérios humanos, líderes políticos, sistemas de governo ou eventos sociopolíticos.

Mas e se o eixo estiver deslocado? Se as imagens não forem metáforas políticas, mas descrições cifradas de fenômenos cósmicos ou civilizações não terrestres?

Sim. No passado não havia o pressuposto cognitivo que possibilitasse associação daquelas imagens e seres a fenômenos da realidade sensível que estivessem fora do alcance de nossos limites sensoriais naturais.

Então, uma tensão entre hipóteses parte de dois pressupostos:

¹) O profeta interpreta o que vê com a linguagem e símbolos do seu tempo. - Se visse uma nave envolvida em névoa, chamaria de “nuvem de fogo

Ezequiel 1:4 “...uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela e no meio dela havia uma coisa com cor de âmbar, que saía do meio do fogo” 

- ou um ser biotecnológico, seria “dragão com sete cabeças

Apocalipse 12:3 E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas.

 ²) O “plano escatológico”, ao telescópico de hoje, talvez não se limite à Terra. A narrativa bíblica de criação, queda e redenção abrange o cosmos inteiro, pois Deus é apresentado como “Senhor dos exércitos celestes” e criador de “incontáveis mundos” Cf.

Isaías45:12 Eu fiz a terra, e criei nela o homem; eu o fiz; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens.

Salmos 19:1 Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

Donde se vê que não seria absurdo inferir uma hipótese cósmica das profecias escatológicas. Portanto, uma leitura que ultrapasse a estratopausa e supere a delimitação antropocêntrica.

Imersos na vastidão do Universo, vamos mirar alguns exemplos da linguagem clássica, na tentativa de reinterpretá-los sob a ótica de nosso tempo:

O “Dragão de sete cabeças”

Apocalipse 12:3 E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. 

Tradicionalmente, são visto como símbolo de Satanás ou impérios mundiais. Mas, em uma leitura cósmica, poderia representar: ¹) uma inteligência não terrestre coletiva (como uma mente colmeia com múltiplas “cabeças” ou módulos de decisão); ²) um objeto astronômico segmentado (como um corpo fragmentado em múltiplas partes, similar ao cometa Shoemaker-Levy 9);  ³) Uma entidade simbiótica com múltiplos núcleos (ideia comum na astrobiologia especulativa).

A “Estrelas caindo do céu” (Mt 24:29 / Ap 6:13)

Mateus 24:29 E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas.

Apocalipse 6:13 E as estrelas do céu caíram sobre a terra, como quando a figueira lança de si os seus figos verdes, abalada por um vento forte 

Historicamente, são interpretadas como guerras, anjos caídos ou meteoros. Pois bem, com a chave cósmica, a imagem pode sugerir: ¹) uma chuva de detritos interestelares causada por eventos distantes (supernovas, colisões planetárias); ²) Sondas ou artefatos artificiais entrando no sistema solar — como 1I/ʻOumuamua (2017), 2I/Borisov (2019), 3I/ATLAS (2025); ³) Explosões de raios gama ou ejeções de massa coronal que afetariam diretamente a Terra.

  Os “Carros de fogo descendo dos céus” (2Rs 2:11 / Ez 1) 

2 Reis 2:11 E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho.

 Ezequiel 1
1 E aconteceu no trigésimo ano, no quarto mês, no quinto dia do mês, que estando eu no meio dos cativos, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus.

2 No quinto dia do mês, no quinto ano do cativeiro do rei Jeoiaquim,
3 Veio expressamente a palavra do SENHOR a Ezequiel, filho de Buzi, o sacerdote, na terra dos caldeus, junto ao rio Quebar, e ali esteve sobre ele a mão do SENHOR.
4 Olhei, e eis que um vento tempestuoso vinha do norte, uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela, e um resplendor ao redor, e no meio dela havia uma coisa, como de cor de âmbar, que saía do meio do fogo.
5 E do meio dela saía a semelhança de quatro seres viventes. E esta era a sua aparência: tinham a semelhança de homem.
6 E cada um tinha quatro rostos, como também cada um deles quatro asas.
7 E os seus pés eram pés direitos; e as plantas dos seus pés como a planta do pé de uma bezerra, e luziam como a cor de cobre polido.
8 E tinham mãos de homem debaixo das suas asas, aos quatro lados; e assim todos quatro tinham seus rostos e suas asas.
9 Uniam-se as suas asas uma à outra; não se viravam quando andavam, e cada qual andava continuamente em frente.
10 E a semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem; e do lado direito todos os quatro tinham rosto de leão, e do lado esquerdo todos os quatro tinham rosto de boi; e também tinham rosto de águia todos os quatro.
11 Assim eram os seus rostos. As suas asas estavam estendidas por cima; cada qual tinha duas asas juntas uma a outra, e duas cobriam os corpos deles.
12 E cada qual andava para adiante de si; para onde o espírito havia de ir, iam; não se viravam quando andavam.
13 E, quanto à semelhança dos seres viventes, o seu aspecto era como ardentes brasas de fogo, com uma aparência de lâmpadas; o fogo subia e descia por entre os seres viventes, e o fogo resplandecia, e do fogo saíam relâmpagos;
14 E os seres viventes corriam, e voltavam, à semelhança de um clarão de relâmpago.15 E vi os seres viventes; e eis que havia uma roda sobre a terra junto aos seres viventes, uma para cada um dos quatro rostos.
16 O aspecto das rodas, e a obra delas, era como a cor de berilo; e as quatro tinham uma mesma semelhança; e o seu aspecto, e a sua obra, era como se estivera uma roda no meio de outra roda.
17 Andando elas, andavam pelos seus quatro lados; não se viravam quando andavam.
18 E os seus aros eram tão altos, que faziam medo; e estas quatro tinham as suas cambotas cheias de olhos ao redor.
19 E, andando os seres viventes, andavam as rodas ao lado deles; e, elevando-se os seres viventes da terra, elevavam-se também as rodas.
20 Para onde o espírito queria ir, eles iam; para onde o espírito tinha de ir; e as rodas se elevavam defronte deles, porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.
21 Andando eles, andavam elas e, parando eles, paravam elas e, elevando-se eles da terra, elevavam-se também as rodas defronte deles; porque o espírito do ser vivente estava nas rodas.
22 E sobre as cabeças dos seres viventes havia uma semelhança de firmamento, com a aparência de cristal terrível, estendido por cima, sobre as suas cabeças.
}23 E debaixo do firmamento estavam as suas asas direitas uma em direção à outra; cada um tinha duas, que lhe cobriam o corpo de um lado; e cada um tinha outras duas asas, que os cobriam do outro lado.
24 E, andando eles, ouvi o ruído das suas asas, como o ruído de muitas águas, como a voz do Onipotente, um tumulto como o estrépito de um exército; parando eles, abaixavam as suas asas.
25 E ouviu-se uma voz vinda do firmamento, que estava por cima das suas cabeças; parando eles, abaixavam as suas asas.
26 E por cima do firmamento, que estava por cima das suas cabeças, havia algo semelhante a um trono que parecia de pedra de safira; e sobre esta espécie de trono havia uma figura semelhante à de um homem, na parte de cima, sobre ele.
27 E vi-a como a cor de âmbar, como a aparência do fogo pelo interior dele ao redor, desde o aspecto dos seus lombos, e daí para cima; e, desde o aspecto dos seus lombos e daí para baixo, vi como a semelhança de fogo, e um resplendor ao redor dele.
28 Como o aspecto do arco que aparece na nuvem no dia da chuva, assim era o aspecto do resplendor em redor. Este era o aspecto da semelhança da glória do SENHOR; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava.

– Esses textos são traduzidos como ação de anjos ou fenômenos divinos. Já, numa leitura cosmológica proporíamos ver como: ¹) Veículos de origem não terrestre descritos com linguagem antiga;  ²) Objetos voadores não identificados (UAPs) observados em diferentes épocas históricas e interpretados religiosamente; ³) Fenômenos atmosféricos ou tecnológicos de origem externa ao sistema solar.

 Temos aí, pois, uma coleção de fenômenos proféticos ajustáveis a possível Interpretação cósmica.

 Com efeito. Desde 2017, três objetos, confirmadamente interestelares, já cruzaram o sistema solar: ¹) 1I/ʻOumuamua (2017) – com aceleração anômala, forma e comportamento inexplicáveis;  ²) 2I/Borisov (2019) – primeiro cometa interestelar observado, trazendo material de fora do sistema solar; ³) 3I/ATLAS (2025) – Objeto que revela um comportamento surpreendente, alternando coloração vermelha e verde, sem precedentes em cometas do Sistema Solar ou externos.  Ele está viajando pelo Sistema Solar a uma velocidade quase duas vezes maior do que os “forasteiros” anteriores. Estimativas indicam que ele tem um núcleo rochoso de 5,6 km de diâmetro e uma massa acima de 33 bilhões de toneladas.

 A presença desses corpos, para além do olhar meramente científico, tem o condão de levantar questões profundas: ¹) E se tais objetos forem “sinais precursores” de um processo maior no cosmos? ²) E se forem artefatos enviados deliberadamente por inteligências antigas (hipótese de Avi Loeb, de Harvard)? ³) E se as profecias usarem linguagem simbólica para eventos físicos reais, que só agora podemos entender com auxílio da ciência e da tecnologia de ponta?

 Estamos numa perspectiva em que a resposta da astronomia moderna pode estar sugerindo, a um olhar híbrido, a possibilidade de visita de Mensageiros Interestelares.

 Verifiquemos a convergência entre escatologia e astrobiologia.  Há um ponto de interseção entre teologia e ciência moderna: ambas reconhecem que o universo é dinâmico, vasto e potencialmente habitado.  Senão, vejamos.

 A escatologia bíblica fala de “novos céus e nova terra”

Apocalipse 21:1 E vi um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe

Isto pode sugerir transformações cósmicas reais: ¹) O conceito de “anjos” pode ser lido como mensageiros cósmicos — não necessariamente biológicos, mas talvez tecnológicos. ²) A “batalha celestial” (Ap 12:7 E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos) poderia simbolizar conflitos entre inteligências não humanas, invisíveis ao olhar literalista.

 Aqui já poderíamos pôr em relevo algumas implicações filosóficas e teológicas: ¹) abertura do cânone interpretativo: a fé não precisa se opor à ciência — pode interpretá-la como desvelamento dos modos divinos de agir; ²) descentralização da humanidade: a história sagrada pode ser parte de um drama cósmico muito maior; e ³) ampliação escatológica: o “fim dos tempos” não seria apenas o juízo sobre a Terra, mas, talvez, uma transição de escala civilizatória cósmica.

 Isto posto, podemos encaminhar a seguinte conclusão. A hipótese de que profecias bíblicas descrevam realidades cósmicas ou interdimensionais não contradiz a fé — apenas propõe a ampliação do horizonte de sua compreensão. Profetas viram “visões” e as traduziram com os recursos simbólicos de sua época; hoje, com telescópios e sondas, talvez estejamos vendo o drama antecipado na profecia com outras palavras, coerentes com a amplitude cognitiva de nossa quadra.

Nesse cenário, eventos como ʻOumuamua ou 3I/ATLAS podem não ser meras curiosidades astronômicas, mas pequenos prenúncios de uma história muito maior que a sabedoria religiosa sempre anunciou — apenas não sabíamos ler e identificar o fenômeno a que apontavam. 



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