Falando sobre o neofascismo latino-americano

por Aline Piva
O fascismo não é aquele europeu do século XIX, mas o neofascismo latino-americano,
especialmente o que vem sendo
cuidadosamente gestado nas entranhas da oposição venezuelana.
Este neofascismo é a
expressão da ação política altamente violenta, racista e classista fortemente
apoiada numa construção midiática que tem por objetivo restaurar os velhos privilégios das elites.
Assim como os fascistas europeus, a oposição venezuelana utiliza-se
de métodos similares para semear a destruição e o caos; e, numa
tentativa de reverter os ganhos sociais
da revolução, propõe uma agenda reacionária e encoraja a violência e o ódio contra
determinados setores da sociedade
venezuelana.
Se afasta, porém, dos seus pares europeus, no sentido de que o neofascismo suprime o conteúdo
nacionalista; além de preservar seus
próprios privilégios, a oposição
venezuelana busca, mais do que tudo, agradar
os interesses do grande capital internacional.
O objetivo é claro: provocar
certos setores da sociedade venezuelana para levar a um cenário de violência
que justifique uma intervenção internacional, enquanto, ao mesmo tempo, busca enfraquecer as bases e o próprio
governo.
E isso se revela nos alvos
dos ataques: a unidade institucional
do chavismo, os ataques pessoais e
escárnio às lideranças chavistas, tentativas de criar confrontações em bairros populares tradicionalmente chavistas.
Se bem, é verdade, que essa estratégia de caos continuado nas ruas
já começa dar sinais de cansaço, os
focos de violência estão reduzidos a alguns poucos municípios estratégicos de
dois dos 24 estados que compõem o País; e as adesões aos protestos estão cada vez menores; também, é verdade,
se observa um recrudescimento inversamente
proporcional da violência nas demonstrações opositoras.
E aqui é onde mais se destaca o componente da luta de classes. Até o momento, quatro jovens negros foram assassinados
pelos opositores por parecerem
chavistas. Isto seria um segundo
momento do plano de violência continuada
da oposição, com adição de elementos
paramilitares e a instrumentalização
dos assassinatos resultantes dessa violência
como arma política.
O saldo total de mortes já chega a 67 e figuras chave da oposição, como Lilian Tintori, seguem instigando a violência afirmando que
nenhuma morte é em vão.
Frente a incapacidade
de angariar apoios de amplos setores da sociedade e das forças armadas, que
se mantém leais ao chavismo, precisam recrudescer a violência para gerar
as condições que levem a quebra da normalidade democrática.
Cometem ações de caráter
quase militar, impulsionadas pelos partidos de oposição a luta popular e a primeira justiça, fortemente apoiados numa estratégia comunicacional que
visa criar confusão e medo
para fortalecer a narrativa de que o país
está sendo tomado pelo caos e, portanto, necessita de uma intervenção internacional.
O que se deseja é uma
transição violenta ao pós-chavismo, restaurando os privilégios históricos das elites do país.
Não se enganem: o que
vemos hoje na Venezuela está muito longe de ser uma luta por democracia: enquanto
o
chavismo opta por conclamar a sociedade ao debate, devolvendo à
constituinte originária o poder de decisão sobre o modelo de país que quer
construir, a oposição opta pela
sabotagem do processo constituinte e pela violência do para-militarismo,
que atinge desproporcionalmente os
setores já historicamente marginalizados.
O que vimos hoje na Venezuela é a face mais cruel e violenta da
luta de classes. É uma expressão nua e crua do neofascismo latino-americano,
onde uma mãe - como Inés Esparragoza, que teve um filho queimado e torturado
vivo por uma turba de irracionais - é demitida por criticar a oposição que
instigou esta mesma violência.
Aline Piva,
publicado em 9 de jun de 2017
neste vídeo do NOCAUTE - Blog do Fernando Morais
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