A troca de generais para as rédeas do jogo ficar em poder do presidente

 


A narrativa desse vídeo esclarece muito para o entendimento do que está acontecendo neste momento do governo neoliberal-autoritário-fundamentalista.

 A negligência com os riscos da pandemia transformou o avanço da contaminação pelo Covid19 numa tragédia de proporção gigantesca, uma ameaça que disparou o alarme mundial.

Bolsonaro e sua equipe de supremacistas, adeptos da eugenia inspirada num darwinismo social, desdenharam dos protocolos e das medidas recomendadas pela experiência científica, inicialmente, apostaram numa rápida contaminação das massas como forma de alcançar imunização de rebanho. Sob orientação direta do presidente, as autoridades sanitaristas foram inibidas de executar políticas de eficácia preventiva. A estratégia foi a de garantir o máximo de liberdade à peste para que o vírus espalhasse uma grande contaminação, priorizando o enfrentamento da doença pela remediação que deveria iniciar precocemente.  

 O uso do áurea carismática adquirida pela manipulação do senso comum mediante uso de mentiras pela espalhadas durante a campanha eleitoral, impossibilitou a construção do consenso necessário à unificação das ações recomendadas pela OMS e pelos quadros técnico-científicos do Min. da Saúde e da sociedade civil organizada. A orientação científica foi acolhida pela maioria de governadores, resultando na diversidade das medidas adotadas que foram implementadas dentro dos limites constitucionais das competências concorrentes.  

 Em vez de atuar no sentido de concretizar a harmonia necessária entre os entes federativos, visando dar maior eficiência e eficácia aos recursos a serem empregados no combate à pandemia, o chefe do governo federal escolheu tratar essa solução administrativa como problema de política partidária, relacionada com votos do calendário eleitoral de 2022.

 Esse erro de escolha do agente que se omitiu de estruturar uma coordenação nacional por meio de um comitê de administração da crise, constituído da representação de todos os níveis decisórios governamentais e por todos as esferas técnico-científicas, acabou por determinar o caos que levou à perda do controle sobre a liberdade de ação e de disseminação do vírus, colapsando o sistema brasileiro de saúde pública. A situação de descontrole sanitário tornou-se pública e notória aos olhos da comunidade internacional que, diante dos riscos crescentes, já mobiliza debates discutindo sobre a necessidade de medidas defensivas com prevenções que possam ser adotadas para além do marco das próprias fronteiras.

 É este o quadro que tem movimentado forças não apenas dentro do Estado, mas também nos mercados e na sociedade civil organizada que convergiram para exigir mudanças no Min. da Saúde e no Min. das Relações Exteriores. Todos parecem ter consciência de que o cerne do problema está nas limitações do próprio presidente: compreensão equivocada da realidade histórica em que está situado; a maneira alienada como lida com os problemas econômicos, sociais e de saúde que assolam o País. Finalmente, a inutilidade das ideias de poder e de liderança que usa como suporte das tomadas de decisões.

 Na fala do bolsonarista do vídeo, a fragilidade de entendimento sobre o que seja o poder social, em especial o poder político do cargo de presidente, seus limites e potencialidades, está claramente evidenciada e denunciada como fonte dos erros políticos que Bolsonaro cometeu nesta reforma ministerial, improvisada numa tentativa de esconder a própria incapacidade de exercer liderança na governança.

 As limitações de Bolsonaro não são exclusividades de ordem pessoal. A maioria aparece, em geral, relacionada com o perfil do homem comum que faz escolhas orientadas pelo gigante da alma, o medo. Medo que vem de longe e muito cedo: do velho do saco, da mula-sem-cabeça, dos comunistas, do anticristo, dos terroristas, das trombadinhas, dos bandidos e até dos mendigos. Bolsonaro orienta-se pelo medo, ignorando que este estado de espírito nunca pode atuar como bom conselheiro. Medo de ser esfaqueado, medo de ser investigado, medo de ver os filhos presos, medo dos civis que o cercam, medo de militares que não se submetem às suas ordens, medo de impeachment, medo de perder eleição e medo, muito medo, de enfrentar o Lula.

 Mas, o medo que mais fortalece a liga entre Bolsonaro e bolsomínios – fortalecendo a criatividade das propostas e a violenta pauta de lutas - é esta inaceitável condição de fraqueza: ter de governar no escabroso ambiente da democracia dentro dos limites do ameaçador Estado constitucional de direito.

 O medo de responder pelas escolhas leva o homem comum a se abster da emancipação ofertada pelo Sistema para o exercício da liberdade; isto implica a necessidade da tutela de alguém que assuma o outro polo da relação de poder. Esse medo originário é absolutamente incompatível com o funcionamento da democracia. A adequação da relação para o caso é a ditadura ou, no mínimo, o autoritarismo verticalizado: o de cima manda e os debaixo obedecem.

Se o que está na posição superior extrai do simbolismo da lei autorização para exigir obediência dos que estão na posição subalterna, é um equívoco confundir essa potencialidade de mando com a potencialidade de poder real.  Poder deferido pela lei e pelo regulamento na hierarquia é, na verdade, feixe de competências legais.

Dizer que se tem poder, numa situação tal, só terá sentido se a pessoa entender suas competências legais como poder simbólico: da caneta, da faixa, do diploma, do voto, etc. Não há poder causal aqui. O que há é imputação legal de ordem hierárquica.

 Poder não é uma coisa, um objeto que se possua. Poder é uma relação intersubjetiva, real e concreta: a capacidade ou habilidade que um polo ativo tem de influenciar ou de determinar o comportamento de um outro polo passivo, de modo que este pratique a ação que aquele, voluntária e conscientemente, quer para alcançar um resultado que lhe interessa. Esses polos podem ser individuais ou coletivos. Para exercício do poder, em conformidade com cada situação relacional, o sujeito ativo pode usar de três técnicas operacionais: persuasão, manipulação e força.  A complexidade do sistema democrático, nos marcos do estado de direito, condiciona o exercício do poder prioritariamente nessa ordem.  As ditaduras e os regimes autoritários, em regra, invertem aquela ordem de prioridades.

 Uma relação de poder real está instrumentalizada para o uso da força, a otimização dos resultados comportamentais está assentada no critério da obediência. A técnica eficaz para exercício do poder está na relação de autoridade, que opõe no polo passivo um sujeito condicionado pelo medo e, no ativo, um sujeito reconhecido como apto para ameaçar ou usar imediatamente a violência: lesão, mutilação, tortura e morte.

 Para o ser humano que ingressa neste mundo selado pelo medo, a submissão e a vassalagem são atitudes naturalizadas pelo manto da normalidade. Os valores mais importantes para a sua vivência social são: segurança, ordem, estática e conservação etc. Estas sensações se não são inatas, podem ser construídas e aperfeiçoadas socialmente. Ordem conecta-se a ideia de hierarquia; estática é paradeira geral: a terra não pode ser um globo que gira sobre si no movimento espiral de uma galáxia; evidente que o movimento é do sol sobre o plano da terra; conservação leva à necessidade de perceber que tudo está parado e à afirmação de que toda mudança, toda transformação é perigosa, inconsequente e danosa.

Pois bem.

Bolsonaro está convicto sobre o acerto de suas propostas para vencer a pandemia salvando a economia. Desequilibra o seu emocional constatar que sua narrativa não convence aos técnicos, aos cientistas, aos intelectuais e até aos artistas. Rapidamente já concluiu que persuadir a galera não é seu forte. 

O Mito gostaria de usar o recurso que abundou na campanha eleitoral, mas a porra do Inquérito do Supremo, nas mãos do Alexandre de Moraes, neutralizou todo poder de manipulação das massas. Até robô está com medo de ser preso em flagrante. 
Os recursos de poder na democracia constitucionalista são muito complicados para os déficits do Messias. 

Armas são poderosas, mas há sempre o risco do tiro: uns saem pela culatra, outros acertam o próprio pé.

Restam as
ameaças de uso da força. Mas, essa decisão de passar a rasoura na cúpula ministerial das forças armadas... pode ter assustado até mesmo a sustentação dos medrosos do centrão.

É melhor que os bolsomínios medrosos não saibam, mas parece que Bolsonaro não dispõe de recursos de poder para assumir as rédeas da governança..

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A fala solidária de Lula e a distorção ampliada por Netanyahu

O Despacho liminar de Alexandre de Moraes e a cantilena de Silas Malafaia

De Colarinhos Brancos a Pescoços Pretos