A fala solidária de Lula e a distorção ampliada por Netanyahu

 



by José Berlange Andrade

 

 A fala de Lula (destaques e emendas do blog)

 "É muito engraçado. Quando eu vejo o mundo rico anunciar que está parando de dar contribuição para a questão humanitária dos palestinos. Eu fico imaginando qual será o tamanho da consciência política dessa gente? Qual será o tamanho do coração solidário dessa gente, que não está vendo que na faixa de Gaza, não está acontecendo uma guerra, mas um genocídio; que não é guerra entre soldados e soldados. [O que está acontecendo] é uma guerra entre um exército altamente preparado e [milhares de] mulheres e crianças.

Olha, se teve algum erro nessa instituição que recolhe o dinheiro, apura-se quem errou, mas não suspenda a ajuda humanitária para um povo que está há tantas décadas tentando construir o seu Estado.  O Brasil não apenas afirmou que vai dar contribuição (não posso dizer [quanto], porque não é o presidente que decide), é preciso ver quem cuida disso no governo para saber quanto é que se vai dar.

O Brasil disse que vai defender na ONU a definição de o Estado da Palestina ser reconhecido definitivamente como Estado pleno e soberano. É importante lembrar que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o Estado palestino.  É preciso parar de ser pequeno quando a gente precisa ser grande!

Veja o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino. Não existe [igual] em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu: quando Hitler resolveu matar os judeus!

Então, não é possível que a gente não possa colocar um tema tão pequeno, você [o rico, o grande] deixar de fazer ajuda humanitária. Quem vai ajudar a reconstruir aquelas casas que foram destruídas? Quem vai restituir a vida de trinta mil pessoas que já morreram?  Cento e setenta mil pessoas estão feridas! Quem vai devolver a vida das crianças que morreram sem saber por que estavam morrendo?  Isso é pouco para mexer com o senso humanitário dos dirigentes políticos do planeta? 

Então, sinceramente, ou muitos dirigentes políticos mudam o seu comportamento com relação ao ser humano ou o ser humano vai terminar mudando a classe política.

O que está acontecendo no mundo hoje é falta de instância de deliberação: nós não temos governança!”

 Qual resumo parece lícito fazer do conteúdo?

Lula afirmando que está acontecendo uma tragédia humanitária em Gaza.  Denuncia que os dirigentes dos países ricos estão se omitindo de promover a necessária ajuda humanitária: crianças e mulheres estão sendo mortas e feridas pela crueldade de uma pessoa que lidera um exército altamente preparado que está exterminando pessoas comuns e desarmadas.

Lula lembrando que na história só conhece uma situação assemelhada: quando Hitler, por motivos racistas, desumanizou todo um povo que lutava para ter seu próprio Estado, comandando inaceitável genocídio.

Diante de tal tragédia e omissão, Lula conclui cobrando consciência política e atitude humanitária das lideranças políticas que, infelizmente para a humanidade, se omitem de construir saídas para as tragédias que ocorrem no Planeta, por obra da ação humana, nesta quadra insana da história.

 Como reagiu o destinatário da mensagem? 

Netanyahu – com a mesma tática que os sionistas usam dos signos religiosos do judaísmo para ocultar sua face nazifascista –, consciente de que Lula apontava para a sua posição de líder do Estado e do Exército, num gesto claro de manipulação política, gritou para a mídia do mundo Ocidental:

A frase de Lula é absurda! Desonrou a memória de seis milhões de judeus assassinados pelos nazistas e demonizou o povo judeu. Lula agiu como o mais virulento antissemita.”

Pergunta-se: onde a fala de Lula apontou para o Povo Judeu? Ou mencionou o holocausto?

Observo: Lula não disse “o povo (Estado) alemão decidiu exterminar o povo (Nação) judeu”.

Lula claramente definiu o limite da responsabilidade política na esfera pessoal de uma liderança: Hitler decidiu matar os judeus, tal como vemos hoje Netanyahu obstinadamente decidido a aniquilar os palestinos, num cenário em que esta Nação está desumanizada aos olhos do agressor.

 Quem parece estar errado aí?

Lula?   Que falava como líder do Sul Global, dentro de um foro de líderes políticos africanos –  dentro do qual estava formado um consenso cognitivo que vê um genocídio ocorrendo na Palestina –  tomados de perplexidade pela falta de solidariedade dos Países ricos que decidiram finalizar a ajuda humanitária

Netanyahu?  Que, agindo como dirigente do governo do Estado de Israel, foi lá dentro do discurso de Lula e pincelou uma frase secundária que apareceu solta, exemplificativa ao conteúdo central da denúncia que pode parecer ofensiva aos ouvidos dos líderes políticos e militares do Ocidente coletivo calado e omisso?

A chave para interpretar a fala de Lula está no contexto. O lugar de fala de Lula não é o Planalto, não fala como presidente do Brasil aos brasileiros. Ele está atuando como um dos líderes do Sul Global, num fórum que reunia líderes políticos africanos, dentro de um país da África. Falava clara e diretamente com um outro polo que a geopolítica atual identifica como Ocidente Coletivo. Lula fazia cobrança dura aos líderes dos países ricos, cobrando decisão e posicionamento sobre o genocídio que está acontecendo na Palestina. Lula estava expondo a falta de ação em favor das crianças e das mulheres indefesas que o Exército de Netanyahu está matando com inaceitável furor e crueldade.

É nesse contexto que ele fala de sua lembrança da história: só viu acontecer isto quando Hitler decidiu exterminar o povo judeu que estava na diáspora da Europa. Em contraposição, por critério lógico, está afirmando que a decisão de Netanyahu de atacar o gueto para onde empurrou os palestinos do norte de Gaza, também é ato com o mesmo sentido prático: exterminar o povo palestino.  Portanto, um contexto de comparação entre o modo de agir de dois líderes, pelo critério de leitura das escolhas livres que fazem: ambos agem como colonialistas racistas, ambos supremacistas sanguinários!

Sim, o contexto do que o governo de Israel chama "guerra de defesa contra o Hamas" não existe, porque o Hamas 'desapareceu', não é encontrado, não opõe resistência ao avanço das forças israelenses. Então, as armas de Netanyahu estão sendo usadas para matar a população civil, desarmada e indefesa. Isto não é guerra. Isto é massacre. Pelos fins a que se destina e pelas proporções dos efeitos catastróficos, um genocídio. 

Ora o holocausto foi, genericamente, um genocídio cometido covardemente contra uma identidade sociocultural diferenciada.

Por fim,
Algum conteúdo racista na fala de Lula? - ou o apontado antissemitismo também é manobra com objetivo político de criar uma cortina, ou seja, rotular com recurso manipulativo uma negação que no discurso não existe, nem subjetiva e nem objetivamente?

Quem se comportou neste episódio com virulência e desrespeito ao outro? O presidente do Brasil ou o de Israel? O chanceler do Brasil ou o supremacista do Estado der Israel?

Quando toda mídia, preconceituosa e precipitadamente, toma a versão de Netanyahu como a verdade posta no ponto de partida é preciso uma atitude crítica: será que a palavra de Netanyahu, desde o lugar de fala do Estado de Israel, tem o mesmo valor que a palavra de Moisés desde o lugar de fala da Torah ou de um profeta desde a Tanakha?  

Está passando da hora uma atitude de os religiosos brasileiros pararem de enxergar o sionismo como judaísmo e o Estado com a Religião.  O que se chama de Israel não é um conceito monolítico, não aponta para uma única realidade sócio cultural (há, pelo menos três subconjuntos distintos de grupos que se identificam como israelenses). É exatamente neste ponto das ignorâncias brasileiras que o líder fascista põe para funcionar a sua manipulação sobre as consciências ingênuas, tendenciosas ou precipitadas.

Pense. Pesquise.
Será que a política do Estado de Israel tem a mesma sacralidade que a Religião judaica?

Sionismo é o mesmo ser ontológico a que chamamos judaísmo?
Por fim, é bom duvidar se é mesmo ignorância, ingenuidade ou se há interesses inconfessáveis por detrás da atitude da imprensa empresarial brasileira...

De onde vem a autoridade da fala que enquadra todo jornalismo corporativo? Do touro de ouro!

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