Nada a ver com Work - Wokevírus aponta para movimentos sociais criados na web para libertação e igualitarização de minorias
By José Berlange Andrade
Nada a ver com Work - Wokevírus aponta para movimentos sociais criados na web para libertação e igualitarização de minorias. Work-vírus que seriam incômodos produzidos por agitação política de trabalhadores (esquerda).
Para um melhor entendimento, resumo aqui a tese central de A Dugin, primeiro filósofo a decretar o fim do confronto ideológico fundado na contradição entre trabalho (work) e capital e respectivas posições políticas entre esquerda (pró trabalho) e direita (pró capital), os entes elementares que se combinavam para a produção econômica e para as escolhas políticas.
A substituição progressiva e irreversível do trabalhador pelo equipamento tecnológico de computação e robotização, introduziu novos desafios que implicam uma nova ordem mundial.
O rápido quadro de transição está aberto a todo tipo de problemas, compreensão e respectivas proposições solucionadoras. Não poderia ser diferente. Quase todos operam com conceitos construídos para eficácia do funcionamento dos modelos de organização social experimentados no passado.
No passado há três grupos de sabedorias que possibilitaram, cada uma hegemonicamente no seu tempo histórico, o desenvolvimento da humanidade. Lá na origem, sob a liderança do xamã causalista, a longa caminhada do medo sob o amparo da Magia diante da ameaçadora e súbita presença da morte. Mais tarde – iniciando na Antiguidade e atravessando, forte, o Medievo teatro de batalhas santas – os sacerdotes intermediam a relação do homem com a divindade ministrando conhecimentos revelados pela fé. Mais recentemente – com o esgotamento dos recursos, dos ativos e das promessas da sociedade campesina, fragmentada em latifúndios servis – a revolução humanista passou a orientar a marcha fundada no conhecimento racional, científico e urbanizador, alimentado pela fé na possiblidade de construir uma grande fraternidade internacional pelo aperfeiçoamento dos vetores da liberdade e da igualdade da pessoa humana.
Fundamentalmente, por causa do avanço da industrialização, das comunicações, da informatização e da robotização, este último modelo – que foi construído para a superação das limitações objetivas e materiais que geraram a crise do modelo anterior – também entrou em crise.
O trabalho tornou-se irrelevante. O capital, fortalecido pela riqueza acumulada, avança para inutilizar a capacidade interventiva do Estado, destruindo os poderes simbólicos da sociedade. Para se ter ideia do alcance dessa transformação, neste momento trabalha-se duro com os recursos da Inteligência Artificial para que o equipamento informatizado assuma as funções decisórias da governança: instituir regras e declarar a finalização dos conflitos de interesses. Duas questões que a modernidade classificou e concentrou nas mãos de sujeitos capazes de Ação (pela inteligência e pela vontade, decidir para transformar ou conservar as relações mundanas). Parlamentares e juízes caminham para a irrelevância?
É neste quadro que o pensador A Dugin vai construir o conceito de revolução despertadora. Para ele, no lugar da velha dicotomia político-econômica que opunha esquerda versus direita, surge uma nova relação de competição: os despertos versus os não-despertos. É dessa matriz que vem o uso da palavra ‘woke’ na língua inglesa, significando ‘acordar’, ‘despertar’. O conceito de wokevirus, usado por Elon Musk, ao referir-se ao procedimento médico que alterou a identidade sexual de seu filho, não está relacionado coma palavra ‘work’, usado por um político conservador para dizer que Musk se referia à esquerda (turma que valoriza o trabalho, em oposição aos que privilegiam o capital). Um equívoco na leitura da realidade, evidentemente.
O resumo da tese de ADugin, que é especialista em assuntos de geopolítica no tabuleiro internacional:
“É hora de despertar para a geopolítica e ver os contornos globais do confronto ideológico. A população mundial está dividida em duas categorias: os despertos e os não-despertos, os que compreendem o que está sucedendo e os que não compreendem ou compreendem parcial e incorretamente .
Os líderes globalistas estadunidenses entendem muito bem o que está sucedendo e buscam preservar o mundo unipolar a todo a custo. Por isso estão tão profundamente envolvidos no confronto com: a Rússia na Ucrânia; os palestinos rebeldes de Gaza que reagiram à opressão de Israel; a China em apoio a Taiwan; a Assad na Síria e no Iran en geral; os populistas na Europa e no próprio espaço dos EUA; a consolidação dos BRICS.
Estas ofensivas não podem ser consideradas absurdo; na verdade, se apresenta como uma clara e lógica tentativa de preservar o sistema unipolar, necessário para a construção da globalização econômica, militar e cultural. Em resposta, é igualmente sensato e lógico apoiar a Rússia contra o regime nazifascista de Kiev; o mundo islâmico contra Israel; a China contra Taiwan; o Assad contra a oposição; o Iran contra os Estados Unidos; os populistas contra as elites liberais; os BRICS contra a OTAN. Isto representa, praticamente, a relação dentre os polos: multipolaridade versus unipolaridade.”
Dentro desses polos – entre os que estão despertos e compreendam claramente o que está acontecendo a sua volta – se desenvolve a grande batalha, até por procuração e em território alheio. Todos os demais assistentes – que só compreendem parcialmente ou ignoram a situação – estão confusos e são irrelevantes.
É hora de despertar para a geopolítica e ver os contornos globais do enfrentamento ideológico. Primeiro, os polos:
Liberalismo + Antlantismo + Unipolaridade = esfera da Hegemonia (USA, globalização)
Lliberalismo + Tradicionalismo + Multipolaridade = esfera da Contra-hegemonia (China+Russia, rotas da seda)
Todos os que estão no meio do tiroteio são peões e são, necessariamente, objetos de instrumentalização (manipulação e/ou persuasão) dos agrupamentos realmente despertos. Só os polos despertos são sujeitos da história; os não-despertos são objeto (massa de manobra/grupo de pressão).
O Grande Despertar é a antítese do despertar. Mas... os globalistas já despertaram para a sua agenda conservadora ou reacionária; agora, os multilateralistas têm que despertar para sua própria – transformadora, progressista e inclusiva – , também.
Hegel afirmava que somente a unidade profunda do intelecto com a vontade pode constituir um sujeito real: o homem como ser cognoscente, sábio e operante.
Hoje, a geopolítica apresenta-nos um mapa intelectual dualistamente polarizado por duas forças voluntárias que militam em sentidos opostos. É a lógica do nós e eles. Os dois lados despertos vêm-se como Luz oposta à Escuridão. Entre eles há um largo espaço para a sombra, um estádio de zona cinzenta, onde permeia uma letargia geopolítica.
A tarefa dos despertos de cada polo é cooptar a massa fluida, capturando-a para a posição frontal e barulhenta do tabuleiro. As redes sociais funcionam como instrumentos desse jogo."
Hoje, nas redes sociais, tornou-se inevitável: onde se permita que um polo cumpra suas tarefas cooptativas (manipulando ou persuadindo), simultaneamente, autoriza-se que o outro manifeste eficácia reativa. Afinal, é um pêndulo que move o Universo. E nós estamos nesse embalo, desde um pálido ponto azul.
Comentários
Postar um comentário