Manipulação
Manipulação (um curso para formar especialistas)
By MARIO STOPPINO, in Dicionário de Política (Norberto Bobbio e outros, Editora UnB,
1989)
I. O QUE É A MANIPULAÇÃO.
O uso da palavra Manipulação para indicar
determinadas relações sociais ou políticas que intermedeiam entre indivíduos ou
grupos não é um uso primitivo mas derivado.
Originariamente o termo foi empregado para
designar certas intervenções do homem na natureza, em que se manuseiam ou
tratam fisicamente determinadas substâncias naturais com o objetivo de lhes
alterar a forma. Falava-se e fala-se de Manipulação, por exemplo, cm referência
ao processo artificial de separação dos metais nobres ou ao tratamento das
substâncias nos experimentos químicos.
Por analogia com esse significado original, ao ser transposto para a esfera social e política, tal termo indica uma série de relações que se distinguem por uma acentuada diferença entre o caráter ativo e intencional da ação do manipulador (que visa transformar o comportamento do manipulado), e o caráter passivo e inconsciente do comportamento deste. O manipulador trata o manipulado como se fosse uma coisa: maneja, dirige, molda as suas crenças e/ou os seus comportamentos, sem contar com o seu consentimento ou sua vontade consciente. O manipulado, por sua vez, ignora ser objeto de Manipulação: acredita que adota o comportamento que ele mesmo escolheu, quando, na realidade, a sua escolha é guiada, de modo oculto, pelo manipulador.
Por analogia com esse significado original, ao ser transposto para a esfera social e política, tal termo indica uma série de relações que se distinguem por uma acentuada diferença entre o caráter ativo e intencional da ação do manipulador (que visa transformar o comportamento do manipulado), e o caráter passivo e inconsciente do comportamento deste. O manipulador trata o manipulado como se fosse uma coisa: maneja, dirige, molda as suas crenças e/ou os seus comportamentos, sem contar com o seu consentimento ou sua vontade consciente. O manipulado, por sua vez, ignora ser objeto de Manipulação: acredita que adota o comportamento que ele mesmo escolheu, quando, na realidade, a sua escolha é guiada, de modo oculto, pelo manipulador.
"Sendo este o motivo pelo qual a pessoa não-desperta ou não-consciente reage agressivamente quando advertida sobre sua condição de passividade na relação de manipulação. Quase ninguém aceita a ideia de estar sendo enganado por pessoas mais espertas. Assim, a conscientização persistente é a única chave para a libertação dos que são encavernados ardilosamente na camada do inconsciente." (Jurupitã Urubiçara).
Na esfera social e política, a Manipulação
pode ser definida, em geral, salvo uma exceção a que me referirei mais adiante,
como uma das espécies do PODER (V.), definido, por sua vez, como determinação
intencional ou interessada do comportamento alheio. A Manipulação é uma relação
em que A determina um certo comportamento de B, sem que, ao mesmo tempo, A
solicite abertamente esse comportamento a B, mas antes the esconda sua intenção
de obtê-lo (ou então a natureza da sua ação para o conseguir), e sem que, por
outro lado, B note que o seu comportamento é querido por A (ou então que é
provocado pela intervenção de A), mas antes acredite que é ele que o escolhe
livremente (ou mediante uma decisão consciente)'. São dois os requisitos
essenciais da Manipulação social. Antes de tudo, seu caráter oculto ou
invisível. O sujeito manipulado não sabe que o é e crê tomar a sua decisão de
modo livre, enquanto que o seu comportamento é, na realidade, manobrado pelo
manipulador como o são os movimentos de um títere nas mãos do operador. A
natureza oculta da Manipulação pode referir-se à própria existência da ação do
manipulador, como acontece no caso agora descrito; ou então, como foi dito na
definição geral acima apresentada e como ilustrarei em breve, pode dizer
respeito ao caráter da intervenção do manipulador. O segundo requisito reside
no caráter intencional do exercício da Manipulação. O manipulador não procura
só provocar intencionadamente o comportamento que deseja do manipulado; procura
também, de modo igualmente intencional, esconder a existência e natureza da
ação que provoca o comportamento do manipulado.
Se se atende ao caráter oculto da
Manipulação no que tange à existência da intervenção manipulatória, a relação
de Manipulação pode ser contraposta à de persuasão. Quando um sujeito tenta
persuadir outro a abraçar uma certa crença ou a adotar um determinado
comportamento, ele indica-lhos explícita e abertamente, formulando de modo
igualmente explícito e aberto as razões que favorecem essa crença ou esse
comportamento. Dessa maneira, a persuasão, ao contrário do que ocorre com a
Manipulação, visa à obtenção do consentimento voluntário e consciente daquele a
quem se dirige. Mas é claro que nem todas as mensagens persuasivas se ajustam
àquele que poderíamos chamar modelo ideal da persuasão racional, cujo fim é
basear em argumentos a verdade, a racionalidade e a conveniência de uma
asserção, de uma opinião ou de uma decisão como tal. É freqüente, especialmente
em política mas não apenas nela, as mensagens persuasivas dos homens
recorrerem, para captar a desejada adesão dos destinatários, a meios que são
inadmissíveis dentro do modelo da persuasão racional e que se destinam a
enganá-los, a moldar suas escolhas sem que eles o saibam: a distorsão da
informação, por exemplo, a verdadeira e autêntica mentira e o recurso a
mecanismos psicológicos inconscientes. Nestes casos, a mensagem continua sendo,
aparentemente, uma mensagem persuasiva.
Trata-se, no entanto, de uma persuasão
ilusória ou, como já foi dito, de uma persuasão oculta, portanto, de uma forma
de Manipulação. O caráter ignorado desta relação não se
refere à existência da intervenção, que, em geral, é claramente percebida pelo
destinatário, mas antes à sua natureza.
O que parece persuasão racional e explícita
é, ao invés, uma moldagem das crenças e dos comportamentos do destinatário da
mensagem, por meio de instrumentos que lhe são desconhecidos.
Se se atende ao caráter intencional da ação
manipulatória, poder-se-á distinguir claramente o conceito de Manipulação do de
ideologia, entendido este em seu significado mais "forte", ou seja,
como falsa consciência de uma situação de poder (v. IDEOLOGIA). Em seu sentido
mais pleno, uma situação "ideológica" supõe que a justificação
ideológica do poder seja aceita tanto pelos dominados quanto pelos dominadores.
Por conseguinte, tal justificação do poder é falsa consciência, não porque
certos atores sociais enganem intencionadamente outros, mas porque ela
constitui uma falsa motivação dos comportamentos de mando e de obediência, pela
qual dominador e dominados se auto-enganam através de processos inconscientes.
Trata-se exatamente de uma "falsa consciência" e não de uma
"falsidade consciente". Pelo contrário, a falsidade, que pode
caracterizar certos tipos de Manipulação, é um verdadeiro e autêntico engano
consciente, um instrumento que o manipulador utiliza de forma deliberada em
relação ao manipulado. Esta distinção conceptual entre ideologia e Manipulação
não impede, contudo, que, de fato, em situações sociais concretas, possam
ocorrer e ocorram muitas vezes casos intermédios, caracterizados por uma
combinação dos dois fenômenos. Nesses casos, à existência mais ou menos difusa
de uma falsa consciência da situação de poder, ajuntam os dominadores, ou uma
de suas frações, práticas deliberadas de Manipulação para inculcar a doutrina
ideológica.
Do ponto de vista avaliativo, a Manipulação
é um fenômeno unívoca e insofismavelmente negativo. Entre todas as formas de
poder, é ela que acarreta mais grave condenação moral. Tem-se afirmado, por
exemplo, que ela constitui "a face mais ignóbil do poder" e "a
forma mais inumana da violência", ou que quem dela é vítima "é
espoliado da alma". Esta acentuadíssima conotação de valor pode reduzir-se
a três afirmações fundamentais: a Manipulação é sempre um mal; nega
radicalmente o valor do homem; é irresistível.
1) Outros termos depreciativos, de uso
comum com relação ao poder, como "opressão" ou
"exploração", referem-se aos seus efeitos. O poder é, nesse caso,
algo de valor neutro que se torna um mal ou um bem segundo os efeitos que
produz. Na Manipulação, pelo contrário, o juízo de valor diz respeito ao poder
em si, isto é, ao modo como ele é exercido. A forma de poder que chamamos Manipulação
é sempre e necessariamente um mal.
2) Desde o mesmo ponto de vista citado, a
Manipulação é semelhante à "coação", que também indica um modo de
exercício do poder que é univocamente mau. Mas a coação, conquanto oprima a
liberdade de quem lhe está sujeito, não está privada de uma franqueza peculiar,
embora brutal: é aberta e explícita, visando obter por meio de ameaças o que,
não obstante, é sempre um comportamento voluntário e consciente. A Manipulação,
ao invés, é falsa e oculta e trata o homem como uma coisa: moldalhe o
comportamento sem contar com a sua vontade consciente. Nega não só a liberdade,
como também a própria capacidade de escolha do homem, ou seja, o atributo que o
torna sujeito moral.
3) Resulta daí que é possível resistir à
coação, embora pagando um preço mais ou menos alto, enquanto que nenhuma
resistência se pode opor à manipulação. O mártir e o conspirador, que preferem
a morte a renegar a própria fé ou a trair os companheiros de luta, pagam com o
preço da vida, mas, ao mesmo tempo, resistem ao poder e o mantêm em xeque. O
aluno que o professor instrui tirando partido da sua vulnerabiliadde não pode
resistir, pois não é posto diante de uma escolha, e ignora que é objeto de
Manipulação.
Há duas formas genéricas de exercer a
Manipulação social. Pode-se agir, em primeiro lugar, sobre as bases das crenças
e ações dos homens. Toda a opinião, todo o comportamento humano, que não seja
puramente instintivo, são guiados e/ou justificados pelos conhecimentos e
juízos de valor do sujeito acerca do ambiente percebido como relevante para a
opinião ou para a ação. É possível, por isso, guiar ocultamente as crenças e as
ações de um indivíduo ou de um grupo, controlando e moldando as comunicações
que ele recebe a respeito de tal ambiente. Esta forma de Manipulação se poderá
chamar distorsão ou supressão da informação, entendendo-se aqui a
"informação" num sentido genérico, que inclui tanto as mensagens de
conteúdo descritivo como as de conteúdo avaliativo. B abraça uma crença ou se
empenha numa ação que ele mesmo escolhe; mas a escolha de B, sem que ele o
saiba, é determinada por A, mediante o controle e distorção que este exerce
sobre as informações que aquele recebe e que o orientam para essa tal crença ou
essa tal ação.
Em segundo lugar, pode-se agir sobre a
estrutura das motivações que impelem os homens para determinadas crenças ou
para determinadas ações.
Como veremos mais adiante, a estrutura das motivações
pode ser entendida em sentido lato, isto é, como uma estrutura que compreende
também os condicionamentos sociais e as próprias estratégias e táticas adotadas
pelo sujeito. Contudo, as relações de Manipulação mais notáveis e importantes,
que operam sobre a estrutura das motivações, terminam nos impulsos e dinamismos
psicológicos, de caráter repetitivo e automático ou quase automático, que podem
constituir a base principal das crenças e comportamentos humanos. As
preferências do homem, tanto em termos de crenças como de comportamentos, não
são só o fruto de deliberações racionais e conscientes; são também, em maior ou
menor grau, o resultado de dinamismos psicológicos encastoados na estrutura da
personalidade, de que o sujeito nem é consciente nem se pode libertar.
Consequentemente, é possível guiar
ocultamente as crenças e ações dos homens por meio do controle (ativação ou
desativação) dos dinamismos psicológicos inconscientes. B abraça uma crença ou
se empenha numa ação que ele mesmo escolhe; mas a sua escolha, sem que ele o saiba,
é determinada por A, por meio do controle que este exerce sobre os dinamismos
psicológicos inconscientes de B, orientando-o para essa crença ou para essa
ação.
Em geral, a ativação manipulatória dos
dinamismos psicológicos inconscientes opera mediante a emissão de mensagens que
prendem a atenção do sujeito passivo e são organizadas previamente para invadir
as dimensões inconscientes da sua personalidade. As práticas manipulatórias
mais características deste gênero pertencem ao campo da publicidade comercial e
da propaganda política. Chamarei a esta espécie de Manipulação psicológica. Mas
não se há de esquecer que a ativação (ou desativação dos impulsos e, em geral,
dos estados emotivos, e até dos estados de atenção e inteligência, pode ser também
efetuada por meio da alteração física do corpo de um indivíduo. Pensemos nas
descobertas da moderna neurofarmacologia (os chamados psicofármacos), bem como
nas possibilidades que foram abertas pela combinação das técnicas dos
microaparelhos eletrônicos e da cirurgia cerebral. Mediante a inoculação de
soros, a ministração de pílulas ou a instalação de microaparelhos eletrônicos
no encéfalo, é possível controlar, não só temporária como também duravelmente,
os impulsos de um homem, seus estados emotivos, seus estados de atenção e de
inteligência. Se o sujeito passivo não sabe que está sendo submetido a uma
dessas intervenções, ou não lhe conhece a natureza e os efeitos, é objeto de
Manipulação.
Chamarei a esta espécie de Manipulação física.
Note-se que ela não se diferencia da espécie precedente pelo alvo ou fim, que
continuam sendo psicológicos, pois dizem respeito aos impulsos e aos estados da
mente. Diferencia-se da "Manipulação psicológica" pelo meio que usa:
a modificação física do corpo do sujeito passivo mais do que a emissão de uma
mensagem simbólica a ele dirigida.
Pondo termo a este ponto, lembro que se
podem distinguir duas formas gerais de Manipulação, uma que atua sobre as bases
cognitivas e avaliativas da escolha, outra, sobre a estrutura das motivações.
Podendo a segunda destas formas ser
decomposta, por sua vez, em dois subtipos principais, são três as espécies de
Manipulação que devemos levar em conta; a Manipulação da informação, ou seja, a
distorção ou supressão da informação; a Manipulação psicológica, ou ativação de
dinamismos psicológicos inconscientes mediante instrumentos simbólicos; e a
Manipulação física, isto é, a ativação de impulsos e estados da mente mediante
instrumentos físicos. Nas páginas que seguem, ocupar-me-ei distintamente de
cada uma destas três espécies de Manipulação.
II. MANIPULAÇÃO DA INFORMAÇÃO.
O exemplo mais simples de Manipulação da
informação é a mentira. Fornecendo a B falsas informações sobre acontecimentos
relevantes para a sua escolha, A pode levar ocultamente B a um certo
comportamento, enquanto este toma as informações por verdadeiras e julga
escolher livremente. A importância da mentira em política, assim como a sua
eficácia quando orientada a fins manipulatórios, ou seja, para obter o consenso
do público ou de outros atores políticos, foram postas em relevo e discutidas
por muitos pensadores políticos clássicos, como Platão e Maquiavel. No nosso
tempo é bem conhecida a falsidade usada sem escrúpulo na propaganda de alguns
Governos totalitários. Mas a mentira política não-é propriedade exclusiva dos
regimes iliberais.
Entre os casos notáveis verificados mais
recentemente nos países liberal-democráticos, o que teve consequências de maior
alcance foi provavelmente o da chamada Resolução do Golfo de Tonquim, com que o
Congresso dos Estados Unidos, baseado em falsas notícias de um ataque contra
navios de guerra americanos, concedeu ao presidente Johnson poderes muito
amplos com relação à guerra do Vietnã.
A supressão da informação é outra técnica
genérica de Manipulação informativa. De per si, a supressão da informação não
envolve a mentira: simplesmente não se publicam determinadas notícias,
interpretações ou apreciações. Neste caso, a Manipulação restringe a base dos
conhecimentos, das interpretações e das avaliações de 730 MANIPULAÇÃO que os
destinatários da informação poderiam dispor, e, conseqüentemente, limita as
alternativas de escolha que se lhes oferecem, tanto em termos de crenças como
de comportamentos. Com efeito, as formas mais comuns de supressão política da
informação — como as práticas de Governo secreto e a censura política dos meios
de comunicação de massa e, por vezes também, de comunicação privada — têm como
um dos objetivos essenciais o de inibir as oposições potenciais.
A Manipulação pode atuar não só limitando a
informação, mas também fornecendo-a em excesso. A emissão incessante de grande
número de informações e de interpretações diversas, total ou parcialmente
contraditórias, pode saturar a capacidade de recepção e de avaliação do
destinatário das mensagens e levá-lo a uma atitude defensiva de indiferença e
de refúgio numa esfera de interesses mais em confronto. Este efeito foi posto
em evidência especialmente nas pesquisas sobre os meios de comunicação de
massa.
Mas uma técnica nada diferente é usada com frequência
nas assembleias e comitês políticos, quando um líder deixa primeiro que os seus
sequazes se sintam desorientados com o excesso de documentos ou de informações,
que não conseguem resolver apesar do empenho e ardor da discussão, para depois
apresentar uma interpretação simples dos fatos e uma proposta de ação também
simples, aceitas com prontidão e alívio.
Outros tipos mais particulares de distorção
da informação podem encontrar-se no uso que se faz dos símbolos, tanto no
discurso persuasivo dirigido a um auditório restrito, como no que se dirige a
vastos auditórios através de meios de comunicação de massa e que pode revestir
a forma, clara ou oculta, da PROPAGANDA (v.). Quanto aos artifícios retóricos,
característicos dos discursos do primeiro tipo, lembrarei apenas que, em geral,
eles podem ser usados para fazer com que o auditório aceite afirmações que a
figura retórica não menciona diretamente, mas pressupõe ou implica de maneira
tácita. Pensemos em certos usos do eufemismo ("países em vias de
desenvolvimento" em vez de "países subdesenvolvidos"), da
comunhão (o "nós", que abrange orador e auditório), das qualificações
("Ministério da Defesa" em vez de "Ministério da Guerra"),
da metáfora, da interrogação retórica, etc.
Entre os artifícios propagandísticos,
utilizados com intuitos manipulatórios, mencionarei, além da seleção orientada
das mensagens a transmitir, que é uma forma de supressão da informação, as
técnicas análogas que permitem acentuar e realçar para o auditório umas
informações mais que outras (evidenciação no espaço, repetição no tempo, etc),
a mistura de notícias e interpretações, de fatos e avaliações, que permite
fazer aparecer como fundada nos fatos a conclusão normativa desejada ("os
fatos falam"), e a aparente derivação da conclusão desejada das ideias e
dos princípios morais do auditório.
Uma forma de Manipulação da informação
particularmente insidiosa é a que pode ocorrer na escola, quando o ensino se
converte em doutrinamento.
Trata-se de uma forma muito insidiosa pelas
condições de todo especiais que a favorecem. De um lado, a escola acompanha a
vida dos jovens por longo número de anos e por muitas horas ao dia; de outro,
os. jovens entram nela e nela permanecem durante um período em que são ainda
amplamente maleáveis e, por isso, profundamente vulneráveis. Segundo alguns, a
escola, sendo o âmbito privilegiado da reprodução dos valores e das tendências
sociais, é por isso mesmo um "aparelho ao serviço da ideologia
dominante" que envolve necessariamente o doutrinamento e a Manipulação.
Mas esta tese parece demasiado exagerada e unilateral; apresenta, além disso, o
grave defeito de eliminar qualquer diferença sob um rótulo pobre de conteúdo
explicativo. Na realidade, uma vez reconhecidos todos os tipos possíveis de
condicionamento que influem na instituição escolar, é sempre importante e
discriminadora a distinção entre um ensino orientado a fazer compreender, a
desenvolver o pensamento e a capacidade de um juízo autônomo no aluno, um
ensino, portanto, ao serviço da verdade e da liberdade, e um ensino tendente a
fazer acreditar, a fazer do aluno um instrumento dócil da sociedade, da nação
ou da revolução, ao serviço, por conseguinte, de uma entidade política coletiva
e do seu poder. É neste segundo caso, no caso da doutrinação, seja ela de tipo
conformista (que age sobre os preconceitos já existentes na sociedade para os
reforçar), ou de tipo sectário (que ataca os preconceitos já enraizados só para
os substituir por outros), que observamos um uso acentuado das técnicas de
opressão e de distorsão da informação, típicas da manipulação informativa.
A condição que influi de maneira mais
decisiva no grau e eficácia da Manipulação da informação é o regime em que
opera o emitente: é diferente se existe monopólio da informação ou pluralismo
competitivo entre vários centros. No regime pluralista, a competição entre os
diversos emitentes provoca uma multiplicidade de descrições, de interpretações
e apreciações, que faz com que seja possível identificar e corrigir as
distorsões e a supressão unilateral da informação, limitando, por conseguinte,
de forma significativa, a possibilidade de cada emitente exercer uma
manipulação eficiente. O monopólio, ao invés, aumenta era excesso a
vulnerabilidade dos destinatários das mensagens e, correlativamente, a
possibilidade de o único emitente da informação recorrer à Manipulação e de o
fazer com plena eficácia. Na falta de acesso a fontes alternativas de
informação, deixará de existir a possibilidade estruturada da crítica e da
contestação pública. Quanto mais absoluto for o monopólio, tanto mais a
supressão da informação acerca de um fato se tornará, por assim dizê-lo,
supressão do próprio fato; as distorsões e avaliações unilaterais convertem-se
em fatos e valores indiscutíveis; e a própria mentira, repetida constantemente
e não contestada, se converte em verdade. Acrescente-se que o monopólio
informativo diminui também gravemente as possibilidades de resistência à
Manipulação tanto psicológica como física, já que só a liberdade de
investigação e de informação torna possível identificar e denunciar
publicamente essas formas de Manipulação. O regime dos meios de informação é,
de fato, politicamente tão decisivo que surge como elemento constitutivo dos diversos
tipos de sistemas políticos: o pluralismo das fontes de informação e a
possibilidade efetiva da contestação pública são um requisito fundamental dos
sistemas liberal-democráticos ou poliárquicos; e o monopólio dos meios de
comunicação é um requisito necessário dos sistemas totalitários.
III. MANIPULAÇÃO PSICOLÓGICA. — Já disse
antes que a Manipulação psicológica e a Manipulação física não esgotam toda a
categoria das intervenções manipulatórias que agem sobre a estrutura das
motivações. Esta forma geral de Manipulação torna-se possível, sempre que um
ator conhece os determinismos, não só psíquicos e físicos, mas também sociais,
que regem, em maior ou menor grau, o comportamento de um outro ator. Na medida
em que tais determinismos regem efetivamente o comportamento de B, este tende a
reagir de modo previsível a certos estímulos ambientais, sendo, por isso,
vulnerável ao poder, particularmente ao poder manipulatório de outros atores.
Por outro lado, se A conhece os determinismos que regem, em certa medida, o
comportamento de B, será capaz de exercer poder, em especial poder
manipulatório, sobre ele. O que acabo de dizer sobre os determinismos sociais é
extensível também às estratégias e táticas de ação em que se empenha um ator de
modo secreto ou reservado.
Se A conhece a estratégia da ação em que B
está comprometido e que ele crê secreta, A está em condições de manobrar
eficazmente exercendo poder, particularmente poder manipulatório, sobre ele. É
esta possibilidade de utilizar em função do poder e da Manipulação as notícias
reservadas que concernem aos atores sociais que torna potencialmente perigoso o
controle centralizado das informações pessoais mediante os cérebros
eletrônicos, e particularmente insidiosos os microaparelhos de espionagem
eletrônica, que permitem registrar ou escutar à distância as conversas
reservadas. Estes instrumentos não são de per si prática de Manipulação; são
instrumentos que aumentam a vulnerabilidade dos atores visados e podem, por
isso, constituir a base do uso da Manipulação contra eles.
Passemos agora à Manipulação psicológica.
Como espécie de Manipulação que opera sobre a estrutura das motivações, esta se
baseia numa vulnerabilidade peculiar do sujeito passivo, definível exatamente
como psicológica. Dá-se tal Manipulação, quando A explora os determinismos psíquicos
inconscientes de B para dirigir ocultamente o seu comportamento. A enorme
eficácia social e política da Manipulação psicológica depende essencialmente de
dois fatores. O primeiro é que os impulsos emotivos inconscientes motivam
muitas das escolhas e das ações dos homens. O segundo é que há símbolos e
imagens que possuem um forte poder de estímulo sobre esses impulsos. A tarefa
do manipulador é, por isso, a de associar o conveniente símbolo-chave e/ou a
imagem-chave ao objeto social para que se quer canalizar o impulso emotivo (um
produto a adquirir, um chefe político a estimar e obedecer, uma nação
estrangeira a odiar e a combater) e a de repetir de forma incisiva e continuada
essa associação, até que a ligação entre o objeto social e a emoção se torne
automático nos indivíduos manipulados como um reflexo condicionado. Estas
técnicas têm sido aplicadas de modo refinado pela publicidade comercial,
baseada no estudo das motivações: para vender os produtos mais diversos têm
sido mobilizadas emoções profundas como a angústia, a agressividade, a
sexualidade, o medo do isolamento e da singularidade, e outras muitas. Mas
destas mesmas técnicas se serviram sempre, embora de modo intuitivo, os
propagandistas políticos e religiosos. O apego e amor à divindade, à tribo, à
pátria, ao partido, bem como o medo e ódio às nações, às religiões, às raças e
às diversas classes propagaram-se, pelo menos em parte, dessa mesma maneira:
associando certos símbolos com outros símbolos e, em definitivo, com
determinados impulsos inconscientes dos homens.
O apelo direto aos impulsos emotivos
inconscientes torna-se particularmente eficaz quando dirigido a uma multidão.
Na multidão, o auto-domínio racional e o sentido da responsabilidade pessoal
dos indivíduos se debilitam; adquirem um relevo indubitavelmente mais acentuado
e aberto os componentes irracionais e incônscios da personalidade; tende a
verificar-se uma espécie de contágio emotivo entre os membros de uma multidão.
Tudo isso faz os indivíduos especialmente vulneráveis
à sugestão emotiva. Uma situação bem conhecida dos agitadores e demagogos
políticos, que utilizam também muitas vezes catalisadores especiais para
aumentar o controle emotivo da multidão. Pensemos no uso ritual de palavras em
forma de slogan ou juramento, às vezes acompanhados de música (hinos nacionais
ou patrióticos, marchas populares, etc.) e da coreografia visual de bandeiras,
emblemas e gestos estilizados.
Estas técnicas foram elevadas a um alto
grau de eficácia nos Estados totalitários, especialmente na Alemanha nazista.
Às vezes a tensão emotiva criada pelo uso de tais catalisadores era tão intensa
que, quando Hitler começava por fim a falar, o conteúdo do discurso já não
tinha quase importância alguma para a multidão histérica e cheia de adoração.
Em certos casos, pode agir. como catalisador do controle emotivo de um grupo o
uso de atos ou palavras que não têm qualquer relação com a situação, mas que,
por suas características intrínsecas, aumentam o impacto da mensagem. Este
mecanismo psicológico estava presente, por exemplo, no juramento dos Mau-Mau,
cujo ritual, obscenamente terrífico e gratuitamente estranho, reforçava o poder
irracional da cerimônia e o controle emotivo dos indivíduos. Uma forma
particularmente intensa e prolongada de Manipulação psicológica, combinada com
ações coativas igualmente intensas e prolongadas, é a que apresentam os casos
de total desintegração do sistema de valores e de idéias adquiridas de um
indivíduo, bem como certos casos extremos de doutrinação, conhecidos sob o nome
de lavagem de cérebro. Os exemplos mais notórios pertencem ao nosso século:
desde as técnicas usadas para obter a "confissão" das vítimas dos
processos stalinistas ou a "conversão" dos prisioneiros americanos na
Coréia, à parte destrutiva dos processos mais drásticos de doutrinamento
empregados na China e chamados de "reeducação". Mas não faltam
precedentes na história do passado: basta pensar, para apresentar apenas um
exemplo, nas técnicas com que os tribunais da Inquisição arrancavam as "confissões"
das "bruxas". Em todos estes casos podem se encontrar traços comuns.
Antes de tudo, é maciça a intervenção física: isolamento social, impedimento do
sono, forte redução da comida e, às vezes, tortura. É freqüente também
acrescentarem-se técnicas de Manipulação física, como administração de drogas e
de psicofármacos. Mas o núcleo do processo é refinadamente psicológico,
consistindo na inibição a todo o transe dos reflexos adquiridos, ou seja, das
idéias, dos princípios morais e até da identidade do sujeito passivo. A
referência a fatos e valores da vítima, a sua profissão, a sua religião, e às
vezes o seu próprio nome são negados e substituídos por outros. Este
esvaziamento do significado das palavras carregadas da experiência do passado,
reforçado por interrogatórios intermináveis, a intervalos irregulares, sempre
sobre os mesmos assuntos, tendentes a fazer surgir contínuas contradições, e
acompanhado de um crescente esgotamento físico, provocado pela falta de sono e
pela desnutrição, leva o sujeito a um estado de desintegração da personalidade,
de medo e de angústia, tão intolerável, que se ativa nele um último mecanismo
psíquico de autodefesa: o emborco da sua carga emotiva num modelo oposto àquele
que guiava o seu comportamento habitual no passado. Chega assim o momento da
plena confissão de atos jamais cometidos e da rejeição total das idéias e dos
princípios morais que antes haviam sido seus, na experiência de vida anterior.
IV. MANIPULAÇÃO FÍSICA.
A Manipulação da informação e a Manipulação
psicológica, que ilustrei até aqui, são formas de poder social. Com efeito, em
ambos os casos, há um ator (indivíduo ou grupo) que modifica o comportamento
voluntário de outro ator (indivíduo ou grupo). É verdade que o sujeito
manipulado ignora sofrer a ação da vontade do manipulador ou das propriedades
da sua intervenção; mas isto não elimina a condição da existência de uma
relação de poder, isto é, que o objeto da intervenção seja constituído por um
comportamento voluntário.
Por outras palavras, tanto na Manipulação
da informação como na psicológica o sujeito ativo da relação opera por meio de
mensagens que captam a atenção (consciente ou não) do sujeito passivo, até
atingir e modificar eficazmente a sua vontade.
Tudo muda, quando da Manipulação da informação
e da Manipulação psicológica passamos à Manipulação física. Neste caso, o
objeto da intervenção manipulatória não é a vontade, mas o corpo do sujeito
passivo. Na Manipulação física, o manipulador opera por meio de instrumentos
químicos ou elétricos, que alteram os mecanismos físicos que regulam os
sentidos e os estados do organismo de tal sujeito, a fim de que a sua
receptibilidade e reatividade se adaptem eficazmente às mensagens e estímulos
ambientais. É verdade que a Manipulação física serve para influenciar o
comportamento do sujeito passivo, sendo, portanto, um instrumento de exercício
do poder. Mas, considerada em si mesma, não é poder, porque não
age sobre a vontade, mas sobre o estado físico do indivíduo. É antes uma forma
de violência, se com este conceito designarmos a ação intencional de um ator
sobre o estado físico de outro, contra a vontade expressa ou presumível deste
(v.VIOLÊNCIA).
Nas suas manifestações tradicionais, a
violência é a ação física que visa ferir, matar, destruir, ou então imobilizar,
prender num espaço fechado. Esta violência, a violência
"tradicional", a violência das armas e das forças armadas, dos
cárceres e dos campos de concentração, possui limites claros em sua eficácia.
Se considerarmos os efeitos diretos da intervenção física como tal, a violência
tradicional serve para impedir que o. sujeito passivo faça alguma coisa: mata-o
ou aprisiona-o, impossibilitando-o de ter um comportamento socialmente
relevante. Mas não serve para lhe fazer nada: com a mera pressão física e
contra a vontade de quem a suporta, se poderá mover ou trasladar seu corpo, mas
jamais provocar qualquer comportamento socialmente interessante. Ora, é
justamente sob este aspecto que a "nova violência", ou seja, a
Manipulação física, assume uma importância de todo particular. Ela parece
ultrapassar os limites da eficácia da violência tradicional, já que, com a
inoculação de um soro, a administração de uma pílula, ou a transmissão de um
impulso elétrico ao cérebro, se pode, ao menos como hipótese, produzir ou
facilitar diretamente um comportamento positivo: o fazer, e não apenas o
não-fazer. Vejamos, portanto, em que grau é que isso acontece nos casos de
Manipulação física e até que ponto é que este modo de operar da "nova
violência" poderá ser utilizado no domínio político.
São dois os tipos principais de Manipulação
física: a administração de psicofármacos e a estimulação elétrica do cérebro.
Em um e outro caso, trata-se de técnicas originadas e desenvolvidas no âmbito
da prática médica, no tratamento e cura das doenças mentais. Convertem-se numa
forma de Manipulação, quando o sujeito passivo não sabe que lhe são aplicadas
ou não conhece sua natureza e efeitos. O que distingue empiricamente estas
formas de Manipulação e lhes dá um caráter eticamente perturbador é que, uma
vez realizada a intervenção, o sujeito passivo já não pode reagir de modo
algum.
Dito por outras palavras, o caráter
irresistível da Manipulação atinge aqui seu grau mais intenso. Na Manipulação
da informação e na Manipulação psicológica, sempre pode acontecer, como
hipótese, que o sujeito passivo se aperceba depois do fato e/ou da natureza da
Manipulação e procure, em consequência, reagir e fugir-lhe. A Manipulação
física, ao invés, invade de forma tão eficaz a subjetividade do manipulado que
este, enquanto durar o efeito da ação, não poderá deixar de ser, por assim
dizer, um aliado do manipulador. A administração de psicofármacos e à
estimulação elétrica do cérebro é às vezes comparado o controle (parcial ou
total) dos nascimentos com vistas à seleção genética dos nascituros. Mas tal
tipo de intervenção não é uma forma de Manipulação do comportamento no sentido
aqui definido e ilustrado. Não serve para modificar as crenças ou os
comportamentos de determinados indivíduos ou grupos; serve para programar o
número de indivíduos que deverão ou não vir a fazer parte da sociedade. Nesse
sentido, conforme a óptica adotada, o controle seletivo dos nascimentos poderá
ser entendido como algo mais ou então como algo menos que a Manipulação física
do comportamento, mas será, de qualquer modo, uma coisa diversa.
Os psicofármacos são compostos químicos que
atuam sobre o sistema nervoso central e influem habitualmente em
"humores" de caráter geral. Os tranquilizantes acalmam as pessoas; os
estimulantes as excitam, deixando-as num estado de euforia; os alucinógenos
alteram-lhes a percepção e a consciência.
Recentemente, a estes tipos gerais de
medicamentos se veio juntar uma autêntica série de compostos particulares, com
os quais se procura, com maior ou menor sucesso, atuar sobre determinados
componentes psicológicos, como a agressividade ou a memória. A importância dos
efeitos de todos estes compostos químicos é sem dúvida notável. Contudo, para
efeitos de um controle do homem que o leve a crenças e comportamentos
específicos, eles se revelam menos eficazes do que muitas vezes se crê ou teme.
O chamado "soro da verdade" (o pentotal), por exemplo, de que alguma
vez se fabulou como de uma arma irresistível, é um composto anestésico de
efeitos hipnóticos e relaxantes, que pode ajudar uma pessoa inibida, e com
desejo de falar, a trazer à lembrança recordações reprimidas e a referi-las;
mas em nenhum caso é capaz de coagir uma pessoa a revelar fatos que ela quer
manter ocultos. Em geral, as limitações do controle químico do comportamento
são fundamentalmente duas. Em primeiro lugar, os psicofármacos são parcamente seletivos,
no sentido de que só debilmente conseguem agir sobre atividades psíquicas
específicas, mantendo sob controle as demais atividades. Daí, em segundo lugar,
que eles ajam mais eficazmente em inibir um tipo geral de comportamento, por
exemplo, a agressividade, do que em orientá-lo para objetivos particulares.
Tudo isto torna bastante improvável o uso político de massa destes meios
químicos. É possível imaginar que a agressividade de uma 734 MAOÍSMO população
politicamente reprimida possa ser inibida de forma duradoura pela mistura de
uma certa quantidade de compostos químicos tranquilizantes na água potável
distribuída. Mas, para obter tal efeito, a substância química teria de ser tão
poderosa que inibisse não só o espírito de revolta, como também qualquer forma
de participação ativa e organizada na vida social; por isso, este tipo de
intervenção só poderia ser útil no caso, hoje pouco provável mas não
descurável, em que uma elite dominante pudesse contentar-se com a obediência
desarticulada e com a atividade manual e tosca de um rebanho de homens.
Não só provável, mas, na realidade, muitas
vezes verificado, tem sido, em vez disso, o uso dos meios químicos, usualmente
combinados com outras formas de ação, para controlar indivíduos socialmente
extraviados ou ativistas políticos da oposição. O emprego, por exemplo, de
compostos químicos para alterar os estados mentais do manipulado acompanha
muitas vezes os complexos processos de "lavagem do cérebro", que já
recordei sob a epígrafe da Manipulação psicológica.
Outras intervenções físicas mais seletivas
e eficazes que as mencionadas até aqui tornaram-se possíveis mediante a
combinação das técnicas da miniaturização dos aparelhos eletrônicos com os da
cirurgia cerebral. Com o uso de tais técnicas, se pôde penetrar no cérebro e
implantar nos tecidos cerebrais, em pontos estratégicos, micro-aparelhos
estimulantes, de tipo elétrico ou químico, que permitem controlar desde fora os
mecanismos centrais do controle cerebral. Acionando os impulsos elétricos, que
operam diretamente ou por meio de reações químicas, é possível estimular ou
aumentar, suprimir ou diminuir funções do corpo, emoções e estados da mente
ligados a determinadas áreas e processos cerebrais, como, por exemplo, as ações
de comer, beber ou dormir, o terror e o amor, a docilidade e a agressividade, a
memória, a atenção, a curiosidade, a inteligência. Os progressos alcançados
neste campo, tanto na pesquisa experimental em animais, como na prática clínica
sobre um número cada vez maior de homens angustiados por diversos males, fazem
pensar que a tecnologia da estimulação elétrica do cérebro poderá um dia
avizinhar-se das hipóteses do controle absoluto do comportamento. E as
perspectivas de uso político de tais técnicas são bastante inquietantes, se bem
que sumamente improváveis a nível de massa. A este respeito, pode-se repetir,
embora por razões diferentes, o que já se disse a propósito do uso político dos
psico-fármacos. A complexidade das operações de instalação cerebral, que
envolvem uma exploração requintada de cada indivíduo, e seus elevados custos
tornam assaz difícil sua aplicação em massa. Mas isso não exclui a
possibilidade do uso da estimulação elétrica do cérebro para o controle de cada
um dos membros de uma oposição política e, mais ainda, para o controle dos
indivíduos socialmente desviados.
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