A Reforma não poderá ser pontual e nem casual. Exigirá novo conhecimento e muita criatividade.


Por José Berlange Andrade

A crise que o mundo experimenta é de esgotamento das promessas do sistema moderno. Nas diversas esferas das relações humanas, com o sobrenatural, com o mundo natural e com a ordem social, as instituições entraram em disfuncionalidade. Estamos vivenciando o caos das complexidades de Babel: o velho projeto emancipatório resultou em manadas de zumbis vagando, desorientadas, num labirinto que constitui um imenso faz-de-contas.

Os sistemas econômico e político se fundiram numa unidade siamesa e o ambiente social experimentou salto de qualidade que pressiona uma transformação, inadiável, no sentido de funcionar, também, como subsistema de processamento de escolhas output – o que indica uma tendência histórica para a horizontalização dos processos de conhecimento e de decisão que ainda permanecem encapsulados em instituições analógicas, construídas para funcionar com as antigas limitações de tempo e de espaço – hoje superadas pelas novas tecnologias de comunicação e computação.

Tudo indica que a técnica do uso da ameaça de violência (coercibilidade do Estado, mediante o uso da lei, da polícia e do fiscal), para obter conduta cooperativa do ambiente mercadológico e social e subordinada de seus próprios agentes políticos e administrativos, está superada como Sistema eficaz de Controle Social de comportamentos e de expectativas. 

Porém, a hegemônica abdução do Estado pelo Mercado implicará conflito com a Sociedade Civil Organizada, porque esta necessita de participação e de transparência para formar conhecimento útil à formação da vontade coletiva. Já os mercadores, precisam de tapetes, malas pretas, segredos e penumbras (senão escuridão) para obter eficácia (lucro) em seus negócios, preferencialmente, com poucos e poderosos agentes.  

Esse avanço do Mercado sobre as instituições do Estado era do conhecimento de políticos, jornalistas, muitos policiais, sindicalistas e até alguns juízes de Tribunais.   Era enorme e espesso o véu que encobria o horizonte de visão de juízes e membros do MP de primeiro grau.  No mais, a Pátria mão gentil dormia tranquila.... Acreditando esperançosa nas promessas fantasiosas da democracia real.

O grupo da Operação Lava-jato foi constituído para combater o crime de colarinho branco na esfera do mercado financeiro, especialmente. Tendo circulado informação sobre a existência de corrupção nos contratos da Petrobrás, envolvendo pessoas que tinham sido nomeadas pelos governos do PT, deu-se a confluência dos interesses partidários, empresariais, financeiros, corporativos e moralistas que se associaram para influenciar no resultado da oportuna eleição de 2014.

Por dar sucessivamente com os burros n'água, no esforço de encontrar provas para identificar um "chefe", necessário para caracterizar o crime de "organização criminosa", o grupo foi sendo obrigado a ampliar e aprofundar as investigações – o que se fazia pelo método eficaz de "seguir o dinheiro".  E, movimentando-se a operação cada vez mais longe e cada vez mais fundo, resultou na descoberta espantosa deste monstro que, só agora, começa a emergir da lagoa: a corrupção que corroeu o sistema dirigente do País.  

Estamos, por isso, no exercício do malabarismo mais absurdo possível na tentativa de se manter as ligas que unem o tecido social: os dirigidos consideram-se ética e tecnicamente superiores e melhores que os dirigentes do País.  Cada esfera, cada instituição e cada agente, em cada nível ou setor da Torre de Babel, reivindica para si o poder de determinar o destino de cada um e de todos os demais.
Por outro lado, quando chega a data do evento que a democracia formal e representativa reserva para "a participação" do cidadão nas escolhas políticas que determinarão o destino da Nação, a maioria da gente esclarecida - porque emancipada nos moldes da promessa da modernidade – recusa-se a cumprir papel de faz-de-contas.

O Colégio de Eleitores de Campo Grande é constituído de 595.172 pessoas aptas a votar.  Nestes tempos em que as falcatruas e desvios no uso do regime eleitoral estão sendo revelados (ainda que parcialmente, na vã tentativa de preservar as aparências do falido sistema de democracia representativa financiada pelo capital empresarial), os eleitores estão se conscientizando do papel nada dignificante que a elite lhe reserva nesse jogo de aparências, como massa de manobra.

O conceito de "voto nominal válido" que foi construído para representar uma ideia de "maioria simbólica e relativa", começa a ser desmascarado pela reação crítica de um crescente percentual de eleitores que se recusam a participar do faz-de-contas: no segundo turno da capital, apenas 462.307 pessoas compareceram às urnas para votar.

A distribuição dos 595.172 votos na eleição deste domingo, face as alternativas postas à liberdade de escolha de cada eleitor, apresentou o seguinte resultado:

1)   Marquinhos:    241.876 votos          -       40.64%                         (menos de 50% dos votos do colégio eleitoral)

2)   ToFora:             183.636 não votos    -     30.86%                                                    (abstenção, branco e nulo)

3)   Rose:                169.660 votos   -   28.50% 
                 (terceira colocada na escala de preferências)

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