O holofote da exposição

 


by J. Berlange Andrade


O não cancelamento do visto do ministro Luiz Fux e outros do STF, por Donald Trump, lança luz sobre uma engrenagem pouco visível — mas muito eficaz — da política brasileira recente: a simbiose entre setores da elite jurídica e projetos autoritários disfarçados de legalismo.

 O que está em jogo aqui não é apenas o temperamento impulsivo (imprevidente, para não dizer contraproducente) dos Bolsonaro, mas a lógica do poder subterrâneo. Durante anos, nomes do Judiciário e do Ministério Público surfaram nas ondas ideológicas da extrema-direita, mantendo-se à sombra, longe das manchetes, mas próximos dos bastidores onde as decisões cruciais eram costuradas.

 Essa aliança silenciosa permite que alguns operadores jurídicos posassem de técnicos, imparciais, garantistas — enquanto agem como peões políticos disfarçados. É uma estratégia eficaz: operar sob o manto da neutralidade, enquanto se dá suporte institucional a um projeto político agressivo, personalista e assumidamente antidemocrático.

 Mas neste caso o silêncio foi rompido pelos próprios aliados. A exposição promovida pela ala bolsonarista — talvez por vaidade, imprudência, burrice ou erro de cálculo — tirou da sombra nomes que preferiam o anonimato. O resultado? Constrangimento público, uma possível causa de suspeição e um mal-estar moral que agora será difícil disfarçar.

 O chefão de uma empresa caiu quando foi flagrado traindo a esposa com a gerente de RH durante um show do Coldplay.  Ao jogar o canhão de luz sobre elegidos parças, Eduardo Bolsonaro repetiu a mesma manobra, só que em dose tripla. Quando o holofote se volta para quem atua na sombra dos bastidores, o que se vê nem sempre é bonito ou dignificante.

 Este episódio revela mais do que um tropeço tático: expõe a hipocrisia de parte da ‘elite suprema’, que tem se mostrado confortável com o avanço do autoritarismo na tentativa de domesticar (ou colonizar?) o STF e todo o Judiciário — desde que isso não comprometa seu prestígio pessoal ou sua mobilidade internacional.

 A lição é dura, mas necessária: em tempos de crise democrática, neutralidade conveniente pode ser cumplicidade. E quem flerta com o autoritarismo fascista cedo ou tarde paga o preço da exposição por um holofote.

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