Às minorias não interessa o desmonte do Estado, nem a meritocracia censitária

No início dos anos 30, por meio de uma eleição, no curso
de uma crise econômico-financeira, cheio de revolta, o povo elegeu Hitler e seu
partido Nazista para governar a Alemanha.
A direita nazista prometia colocar ordem na política e na
economia mediante o enfrentamento aos inimigos que eles apontavam como
responsáveis pela crise: na política, a esquerda comunista; na economia, os
banqueiros e comerciantes judeus. Na sociedade civil em geral, algumas igrejas
evangélicas, os ciganos e estrangeiros de outras raças.
O resto da história, todos que não estudaram pela
cartilha do enganador Olavo de Carvalho conhecem: ditadura, perseguição,
holocausto e guerra de extermínio, com a supressão das liberdades democráticas:
de opinião, de reunião, de imprensa, de religião, de tudo que não estivesse de
acordo com a doutrina nazista e com a prática fascista.
Em 1939, o Mundo inteiro entrou em guerra contra os
nazifascistas. Foi uma luta de vida ou morte da Democracia contra o
autoritarismo totalitário. Em 1945, com a rendição dos alemães para os russos,
na batalha de Berlim, a Democracia venceu!
Na solenidade da vitória, os democratas proclamaram à
humanidade:
“Que essa ocasião solene faça emergir um mundo melhor, com fé e
conhecimento, dedicado à dignidade do homem e à satisfação de seu desejo de
liberdade, tolerância e justiça."
Para a construção histórica desse propósito,
um programa de aperfeiçoamento da humanidade, a ser posto em prática pelos
países vitoriosos, foi assinado e proclamado com o seguinte preâmbulo:
Declaração
Universal dos Direitos Humanos
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução
217 A III) em 10 de dezembro 1948.
“Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da humanidade e que o advento
de um mundo em que mulheres e homens gozem de liberdade de palavra, de crença e
da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a
mais alta aspiração do ser humano comum,
Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo
império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso,
à rebelião contra a tirania e a opressão,
Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações
amistosas entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua
fé nos direitos fundamentais do ser humano, na dignidade e no valor da pessoa
humana e na igualdade de direitos do homem e da mulher e que decidiram promover
o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,
Considerando que os Países-Membros se comprometeram a promover, em
cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades
fundamentais do ser humano e a observância desses direitos e liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da
mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,
Agora portanto a Assembleia Geral proclama a presente Declaração
Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os
povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da
sociedade tendo sempre em mente esta Declaração, esforce-se, por meio do ensino
e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção
de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o
seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os
povos dos próprios Países-Membros quanto entre os povos dos territórios sob sua
jurisdição.”
Perceba-se. A vitória da Democracia sobre o
nazifascismo implicou o compromisso de os vencedores passarem a trabalhar para
construir “um mundo melhor, com fé e conhecimento, dedicado à dignidade do
homem e à satisfação de seu desejo de liberdade, tolerância e justiça”. Para
entender o sentido dessa construção, basta compreender o seguinte. Era contra
esses valores que o eixo nazifascista dirigia o seu ódio e a sua ação
destrutiva.
O dado histórico é este. O Nazismo é baseado
num programa que ensina que não existe uma ‘família humana’, porque a
humanidade é constituída de raças diferentes. E se há diferença, deve haver uma
hierarquia entre os grupos. Seja diferença de gênero, raça, religião ou cultura, deve ser identificado quem seja superior e quem inferior para se estabelecer a
relação de poder que vai garantir a distribuição de riqueza e de prestígio,
conforme um regime de privilégios. A força e a violência são os instrumentos de
que disporá o grupo superior para subjugar os inferiores, controlando os
comportamentos desejáveis: quem tem a força manda e quem não tem obedece!
‘Força-ameaça-medo’ forma o tripé estrutural
das relações nazifascistas.
Para alcançarmos o ideal comum a ser buscado
por todos os povos, todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão, esforce-se, por meio do ensino e da educação, por promover o respeito a
esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter
nacional... Como?
Até 2014, podemos afirmar que grande parte
dos indivíduos e cada órgão do governo brasileiro empreendiam esforços globais
no sentido de promover o respeito aos direitos e as liberdades, que se
aperfeiçoavam progressivamente no sentido da universalização com respeito e
tolerância às diversidades.
O ensino e a educação – a serviço estratégico
dos valores e princípios da Liberdade, da Igualdade e da Solidariedade – funcionavam
como instrumentos fundamentais de consolidação dos direitos humanos e do avanço
da sociedade plural.
Alinhada à Carta da ONU, a
Constituição brasileira determina que o Estado garanta o ensino e a educação
para todos e, em especial, a União “garanta o acesso
a níveis superiores para os estudantes que demonstrem condições” de
maturidade moral e intelectual.
É nesta bolha que está o problema das limitações
que impedem não apenas a promoção dos direitos, mas, também, a construção de um
mundo melhor, com fé e conhecimento, dedicado à dignidade do homem e à
satisfação de seu desejo de liberdade, tolerância e justiça.
Até 2014, a garantia do acesso a níveis superiores para os estudantes que
demonstrem condições de
dominar conhecimento e técnicas
profissionais para servir ao País, passava pelo problema que exigia
resolução do gargalo que limitava o acesso à universidade, tanto quantitativa
quanto qualitativamente. As
universidades públicas, em geral, atraem pela qualidade do ensino que prestam e
pela comodidade de serem gratuitas. O
incômodo, aqui, é a dificuldade do acesso por limitação de vagas e filtro dos
exames. As universidades privadas são acessíveis, mas a elevados custos. Os que
não conseguem a cesso à Pública, dispondo de rendimento, buscam a Privada. Os
que não possuem rendimento suficiente, vindo de escola pública de qualidade
inferior, estará excluído do acesso a níveis superiores de ensino.
É, exatamente, neste quadro que privilegia
ricos – porque lhe monopoliza o ensino público e gratuito de qualidade – e exclui os pobres de todos os tipos de universidade, que se deve construir
soluções que garantam o acesso de todos, pobres e ricos que reúnam condições
morais e intelectuais.
O quadro demonstra que os ricos não terão
problema algum de acesso: preparam-se nos melhores cursos particulares e buscam a
universidade pública próximo da família. Se não der, o rico continua buscando as outras ao
longo da estrada. Barrado, procura a universidade particular. Se não dá, sai
do País e frequenta a vizinhança continental.
O jovem de classe média mediana, somente com
muita garra, tempo e determinação consegue acessar a universidade pública. Se não encontrar
um parente que ajude a financiar o estudo, seus projetos quedam na porta da
universidade.
O pobre nasce condenado a ficar excluído,
salvo os milagres do sobrenatural.
O crédito educativo de 1976 foi criado para
atender a demanda da classe média, abrindo-lhes as portas da universidade
privada por meio de financiamento bancário, garantido por um fundo do governo. FHC, nos anos noventa, aperfeiçoou com o nome
de FIES para ampliar a base de acesso.
Lula, nos seus dois governos, estabeleceu
metas para abrir a universidade aos filhos dos trabalhadores de baixa renda e
às minorias excluídas historicamente (negros, índios, pobres, deficientes, etc),
melhorando as condições do financiamento em favor do estudante e em detrimento
dos ganhos dos bancos. No segundo
governo ele criou uma Bolsa de Estudo. O Prouni veio para acudir precisamente
àqueles que estavam impossibilitados de acessar às universidades Privadas e
definitivamente excluídos das Públicas.
Por que?
Porque o liberalismo e sua técnica de mérito só servem para os ricos.
Para os que vivem de altos rendimentos mensais e anuais.
Se depender do critério de mérito, o pobre
não terá acesso nem à cova depois da morte.
Os pobres só têm uma garantia de acesso aos
bens distribuídos pela civilização, no regime do Estado moderno e dentro da
Economia capitalista: o direito e a justiça gratuita.
Por isto, estes direitos são os únicos
méritos que a Carta dos Direitos Humanos colocou às suas mãos, depois que a
Democracia, pela força do Exército Vermelho, derrotou o nazi fascismo de Hitler
na Grande Guerra Mundial, em 1945.
Neste momento da vida nacional (e no mundo
todo) os partidários da superioridade racial, da supremacia de gênero e da
higienização dos defeitos físicos e mentais, estão em guerra novamente.
Mais uma vez querem tomar o Governo pelo voto
para, depois, impor o regime nazifascista para calar ou exterminar as
minorias.
Que não sejam negros (mestiços e índios),
mulheres e deficientes os que caiam no canto da sereia, ou nas armadilhas da serpente em cuja cabeça funcionam as perversidades, os preconceitos e as loucuras de Bolsonaro.
#EleNão
#EleNão
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