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Nada é mais moderno do que lembrar

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  por José Berlange Andrade No turbilhão do agora, onde tudo se dissolve em pixels e efemeridade, há um ato profundamente revolucionário: lembrar. Não como nostalgia passiva, nem como fuga para tempos dourados de ilusão, mas como resistência lúcida. Lembrar é desafiar o tempo que nos empurra para frente com a urgência do novo, do complexo, do esquecível. Em uma era que venera o instantâneo, lembrar é um gesto de coragem. É mergulhar nas águas fundas da memória e trazer à tona não apenas rostos, cheiros e vozes, mas também promessas feitas, caminhos abandonados, sonhos que ousaram existir. É consideração que o futuro não nasce do nada — ele brota das raízes do que já foi vívido, amado, perdido. Lembrar é tecer fios entre o passado e o presente, é humanizar a máquina do progresso com o calor de histórias que insistem em permanecer. Nada mais atual, portanto, do que esse retorno silencioso ao que nos constitui. Pois no fundo, ser moderno não é correr atrás do novo, mas saber onde se e...

3I-ATLAS a terceira das sete cabeças na hipótese cósmica da profecia de João

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  Por José Berlange Andrade A tradição religiosa — judaico-cristã em especial — sempre leu profecias escatológicas (Daniel, Isaías, Ezequiel, Apocalipse) de forma antropocêntrica e histórica , associando-as a impérios humanos, líderes políticos , sistemas de governo ou eventos sociopolíticos . Mas e se o eixo estiver deslocado ? Se as imagens não forem metáforas políticas , mas descrições cifradas de fenômenos cósmicos ou civilizações não terrestres ? Sim. No passado não havia o pressuposto cognitivo que possibilitasse associação daquelas imagens e seres a fenômenos da realidade sensível que estivessem fora do alcance de nossos limites sensoriais naturais. Então, uma tensão entre hipóteses parte de dois pressupostos: ¹) O profeta interpreta o que vê com a linguagem e símbolos do seu tempo . - Se visse uma nave envolvida em névoa, chamaria de “ nuvem de fogo ” Ezequiel 1:4 “...uma grande nuvem, com um fogo revolvendo-se nela e no meio dela havia uma coisa com cor de âmbar, que ...

O Sentido da falácia de Luiz Fux no voto que Absolveu Bolsonaro

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  por J. Berlange Andrade “ Ao criminalizar a tentativa violenta de depor o governo, a lei pressupõe a prática de conduta tendente a remover o mandatário do cargo ocupado. E era Bolsonaro o mandatário do cargo ocupado !" [Min. Luiz Fux, no voto que absolveu Bolsonaro].   Essa fala de Luiz Fux toca diretamente no cerne do conceito jurídico de “ataque à ordem democrática”, especialmente no contexto dos eventos de 8 de janeiro de 2023. Mas, é fala meramente retórica: como argumento n ão é logicamente consistente nem juridicamente sustent ável.   Pelo viés da lógica, o argumento pode ser decomposto assim: Premissa 1: A lei pune quem “ tenta depor o mandatário constitucionalmente investido no cargo ”. Premissa 2: Em 8 de janeiro de 2023, “ Bolsonaro já não era mais o presidente em exercício no cargo ” — Lula havia sido investido com a posse em 1º de janeiro. Conclusão implícita: Como Bolsonaro “ainda estava no cargo até 31 de dezembro, seria absurdo remover-se a si ...

A Decisão de Trump e suas Implicações com a (in) Efetividade Jurídica

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  a balança do negociador 'trucante' A decisão do governo Trump de impor sanções ao ministro Alexandre de Moraes do STF teve motivação político ideológica: ofensiva da Internacional nazifascista visando a submissão do Poder Judiciário e demais autoridades brasileiras que representam obstáculo à vitória da extrema-direita sobre a esquerda e seus aliados do centro democrático nas eleições de 2026. Mas, esta circunstância, que tem conexão com o julgamento de Bolsonaro, é apenas um apêndice no conjunto do cenário que empurra Trump ao radicalismo nas relações internacionais. A tensão maior ocorre na esfera geopolítica e seu eixo passa pela China, Rússia e Irã – exatamente nessa ordem de relevância. A ameaça inicial do Tarifaço representou uma escalada sem precedentes nas tensões entre Estados Unidos e Brasil, com profundas implicações jurídicas, políticas, econômicas e repercussões para o BRICS e a soberania brasileira. Vamos reduzir essa complexidade isolando a camada jurídic...

O holofote da exposição

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  by J. Berlange Andrade O não cancelamento do visto do ministro Luiz Fux e outros do STF, por Donald Trump, lança luz sobre uma engrenagem pouco visível — mas muito eficaz — da política brasileira recente: a simbiose entre setores da elite jurídica e projetos autoritários disfarçados de legalismo.   O que está em jogo aqui não é apenas o temperamento impulsivo (imprevidente, para não dizer contraproducente) dos Bolsonaro, mas a lógica do poder subterrâneo. Durante anos, nomes do Judiciário e do Ministério Público surfaram nas ondas ideológicas da extrema-direita, mantendo-se à sombra, longe das manchetes, mas próximos dos bastidores onde as decisões cruciais eram costuradas.   Essa aliança silenciosa permite que alguns operadores jurídicos posassem de técnicos, imparciais, garantistas — enquanto agem como peões políticos disfarçados. É uma estratégia eficaz: operar sob o manto da neutralidade, enquanto se dá suporte institucional a um projeto político agressivo,...

STF, IOF e o Papel da Oposição - Liberdade com Lei, Poder com Limites

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  by José Berlange Andrade   A recente decisão do ministro Alexandre de Moraes, que suspendeu o decreto legislativo da oposição e revalidou parcialmente o decreto do Executivo sobre o IOF, gerou mais do que polêmica: escancarou um problema recorrente na política brasileira — a confusão entre fiscalização legítima e sabotagem institucional.   Um deputado da oposição, em tom irônico e provocativo, publicou em rede social que “ a Constituição mudou e agora só existem dois poderes: o Executivo e sua assessoria jurídica, o STF ”. Em complemento, sugeriu que o Congresso poderia “ fechar as portas”. É evidente o desprezo retórico por princípios elementares do Estado democrático de direito. Pior: esse tipo de manifestação distorce deliberadamente a realidade jurídica e institucional brasileira .   A Constituição Continua em Vigor, embora a  crítica da oposição ignore que a Constituição Federal de 1988 permanece clara em seu Art. 2º: os Poderes da União são inde...

O IOF e a Jurisdição Moderadora no Século XXI - Entre o Ativismo e a Composição Institucional no STF

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   by J. Berlange Andrade O recente conflito entre o Presidente da República e o Congresso Nacional, decorrente da revogação legislativa de um decreto presidencial sobre o IOF, reacendeu debates cruciais sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal como mediador de crises institucionais. A decisão do ministro relator Alexandre de Moraes de suspender ambos os atos normativos e convocar audiência de conciliação foi vista por muitos como ingerência política, e mais: ao suspender os efeitos do ato regulamentar do Executivo, teria se alinhado aos objetivos político-eleitoreiros da oposição congressual. Contudo, à luz do Código de Processo Civil de 2015 e da função constitucional do STF, tal postura revela uma nova forma de jurisdição moderadora, ancorada na lógica do consenso e da estabilidade institucional.   Na trilha iniciada por Mauro Cappelletti e replicada aqui por Kazuo Watanabe, vejo apenas mais um resultado de avanço civilizatório: do paradigma adversarial ao paradig...