UMA HUMILDE COLABORAÇÃO AO GENERAL BRAGA NETTO, INTERVENTOR MILITAR NO RIO DE JANEIRO
Por Francisco Costa
Sr. General
Como é do
seu conhecimento, não existe geração espontânea, nada nasce do nada, com tudo
sendo resultado de uma lenta e gradativa evolução, inclusive a criminalidade.
A situação fluminense, particularmente a carioca, nasceu do arbítrio na ditadura militar
e cresceu com a alternância entre a omissão e a cumplicidade, nos diversos
governos estaduais e municipais, além
dos componentes históricos e geográficos da região.
Durante
quatro séculos e meio esta cidade foi a sede dos interesses políticos e
econômicos da classe dominante, primeiro como sede da colônia portuguesa,
depois sede do império português e, finalmente, sede da república, sendo que
durante praticamente por quatro séculos, em
regime de escravidão de negros e índios, o que fez aqui conviverem os extremos
dos estratos sociais: de um lado a elite político econômica e, do outro, os escravos
e seus descendentes, com a luta de classes buscando apoio financeiro, para
sustentação, no ilícito, degenerando para a criminalidade depois, quando a
classe dominante viu a potencialidade econômica do narcotráfico.
Além desses
antecedentes históricos, há a geografia da cidade.
Nossa cidade
fica na Serra do Mar, relevo que se continua submerso no oceano, com alguns
bairros reduzidos a umas poucas centenas de metros entre a linha das marés e os
morros, com a elite morando nos baixios e a pobreza e a miséria nos morros,
coabitando nos mesmos bairros.
Melhor
explicando: enquanto em outras cidades os bairros proletários estão afastados
dos chamados bairros nobres, burgueses,
aqui as mansões e barracos, choupanas e palácios são vizinhos, não raro estando
nas mesmas ruas, o que aguça a luta de classes.
Num quadro
assim a conjuntura social só poderia ser
de instabilidade, com a polícia perdendo o caráter de polícia para ganhar o de
força de segurança da elite, mais aguçando o ódio de classe, fazendo a população pobre optar pelos
chamados bandidos, dando-lhes guarida nos morros.
Com uma
classe política podre, formada pelos defensores dos interesses da classe
dominante e dos que, oriundos da pobreza, fizeram da política uma alavanca de
ascensão social e econômica, pessoais, aqui sempre imperaram o oportunismo, a
demagogia, o populismo, o carreirismo político e a corrupção.
Um bom
exemplo do que afirmo temos no Senhor Moreira Franco.
De origem
humilde, pobre, veio, com a família, ainda menino, do Piauí.
Casou-se primeiro
com a filha de Amaral Peixoto e neta de Getúlio Vargas, depois com a filha de
Vasconcelos Torres, um influente político fluminense, o que facilitou a sua
ascensão política.
Líder estudantil, projetou-se na
política, tornando-se deputado por três mandatos, depois prefeito de Niterói,
e, finalmente, governador do Estado do Rio de Janeiro.
Elegeu-se governador do Estado
prometendo acabar com a violência em seis meses, mas, ao invés de atacá-la nas
origens, firmou um “pacto de não agressão”, recebendo bandidos do Comando
Vermelho em seu gabinete, para acordos de divisão de áreas de influência no
Estado.
Nunca é demais lembrar que o
seqüestrador do empresário Roberto Medina era mais que amigo particular de
Moreira Franco, era o seu personal trainner, segurança pessoal de Moreira e
membro do Comando Vermelho.
Onde houve corrupção Moreira estava:
na Cedae, na Caixa Econômica, nas loterias da Caixa, na administração do
FGTS... Seu nome está na lista da Odebrecht.
Por indicação de Temer, Dilma o
nomeou Ministro da Aviação. Ao demiti-lo, sem meias palavras, dura e franca,
Dilma justificou: “ele rouba”.
Pois é este homem o mentor da
intervenção militar no Rio de Janeiro. Como deixar de acreditar que não é mais
uma jogada, agora para desviar o foco das investigações sobre, rigorosamente,
todos os membros do governo federal?
Finalmente, Moreira Franco foi o
adversário político de Leonel Brizola na famosa eleição do escândalo da
Proconsult, liderado pela Globo.
Ao contrário
do que pensam, o apelido de Angorá, dado
por Brizola a Moreira, não é por causa da sua vasta e grisalha cabeleira, mas
pela docilidade dessa raça de gatos, que aceita qualquer colo e qualquer afago.
Moreira esteve ao lado de todos os
governos, desde a ditadura militar, quando jogou dos dois lados.
Como acreditar, General?
A ciência nos mostra que só
neutralizando as causas impede-se os efeitos.
Para secar
um rio é necessário secar ou desviar o curso das nascentes, ao contrário de
represar a foz, o que só aumentaria o volume do seu leito, inundando tudo.
Atacar o
varejo do narcotráfico é represar a foz.
O ataque ao
narcotráfico, à criminalidade, à violência deve se dar nos seus nascedouros, e para isso é necessário o ataque em duas
frentes: na fonte de fornecimento da
“mercadoria”
e na fonte da insatisfação social.
Não temos plantações de maconha e
coca no Rio de Janeiro,
não temos grandes refinarias de drogas
nem fábricas de armas, vindo tudo do
exterior, de outros estados e outros países.
O ataque ao narcotráfico deveria se dar em nível
nacional e de forma constitucional, começando
pela identificação dos envolvidos no atacado, sejam produtores, importadores ou transportadores, prendendo-os.
A seguir, com a identificação e
prisão dos que se associaram ao narcotráfico, movimentando dinheiro, lavando
dinheiro, fazendo tráfico de influência ou agindo nas instituições públicas,
fazendo vistas grossas a esta economia paralela: empresários, entidades financeiras, fiscais e auditores da Receita Federal e,
principalmente, policiais corruptos.
Dificultada a operação criminosa
interna, passem para as fronteiras, localizando e destruindo portos fluviais
clandestinos e aeroportos,
também clandestinos, em fazendas
próximas das fronteiras, desde que provado que de uso do narcotráfico e não de
serviços outros.
Cheguem aos portos e aeroportos
internacionais, com atenção especial aos das cidades do Rio e São Paulo, escoadouros das duas principais
organizações criminosas brasileiras,
para a Europa e Oriente.
Desmontado, ou pelo menos prejudicado em muito, o
fornecimento para o varejo, logo virão as fragmentações das organizações
criminosas, que perderão poder, dinheiro e prestígio.
Parte dos trabalhadores (sim, trabalhadores, ainda que em
atividade ilícita) buscarão colocação no
mercado de trabalho formal, na licitude,
abandonando o crime, e parte, por má
índole e condicionamento, buscará novas modalidades de crimes: furtos, roubos, assaltos, sequestros....
Tornando-se presas mais fáceis para a
polícia, que deverá prendê-los.
Esta seria a parte operacional, isenta, equânime,
honesta, não discriminatória, prendendo o chamado “xerife” do Porto de Santos,
e que sabemos quem é (segundo as
polícias do mundo todo, o Porto de
Santos é o segundo, do planeta, em movimento de drogas).
Prendendo construtores de aeroportos em terras da
família, fora da rota dos voos comerciais, mas na rota do narcotráfico.
Helicóptero transportando quase meia
tonelada de pasta de cocaína. Jatinho executivo transportando quase seiscentos
e cinquenta quilos de cocaína, com investigações paradas e/ou arquivadas porque dos poderosos políticos
que deflagraram a intervenção militar no Rio de Janeiro.
Este é o passo primeiro para diminuir
a violência: neutralizar os mentores da violência, e que
não estão nos morros nem nos bairros proletários.
Isto, com investigações, pensadamente, coletando
provas insofismáveis, de maneira a dificultar as manobras jurídicas e não como
uma guerra, a palavra mais usada pelas autoridades da segurança pública, e mais
recentemente, pelo próprio presidente da república.
Se a polícia se acha em guerra com os
bandidos e as forças armadas pensam a mesma coisa, que não lastimem os seus
mortos, guerras pressupõem baixas dos dois lados.
A questão é técnica e política e não simplesmente
bélica.
A outra questão diz respeito à
justiça social, o que discutirei no próximo artigo."
Rio,
23/02/2018.
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