José Afonso da Silva - o jurista que ensinou o Brasil a ler a própria Constituição

 

O Brasil perde hoje um de seus maiores juristas. José Afonso da Silva


A OAB de São Paulo noticiou hoje que “o Brasil se despede não apenas de um jurista, mas de um dos maiores arquitetos do pensamento constitucional pátrio. Com uma trajetória dedicada à ciência jurídica, José Afonso da Silva formou gerações, ensinando que o Direito não é letra fria, mas instrumento vivo de transformação social. Mais do que comentar a Constituição Federal, o emérito professor ensinou o Brasil a compreendê-la e respeitá-la.”

 Nascido numa pequena fazenda no interior de Minas Gerais, sua vida foi desde cedo moldada por desafios que o acompanharam como marcas formadoras. Alfabetizado em casa, partiu depois para Buritizal e para a região de Queima Fogo. Na infância e juventude, conciliou estudo e trabalho com a obstinação típica dos que carregam um chamado: foi padeiro, mecânico, garimpeiro e alfaiate, até mudar-se para São Paulo aos 22 anos — sem ter concluído o ensino primário.

 Aos 27, ingressou na Faculdade de Direito da USP, onde conquistou o título de livre-docente e deu início à trajetória de brilhantismo que o consagraria como o jurista mais citado na história do Supremo Tribunal Federal.

José Afonso da Silva marcou decisivamente minha formação jurídica em dois momentos cruciais.

 O primeiro, em 1981, durante minha pós-graduação em Direito Público sob orientação do Professor Michel Temer, quando produzi uma monografia dedicada à sua então inovadora e instigante Teoria da Aplicabilidade das Normas Constitucionais. Seu pensamento abriu-me as portas para uma compreensão científica mais profunda do Direito.

 O segundo, em 1987/1988, quando atuei no lobby em defesa dos direitos dos trabalhadores, acompanhando os debates na Comissão da Organização do Estado, na Assembleia Nacional Constituinte. Tive o privilégio de dialogar com o grande jurista e de testemunhar sua atuação firme e lúcida na Comissão de Sistematização, ao lado do Relator, deputado Mário Covas. Ali, sua competência, serenidade e visão contribuíram decisivamente para erguer aquela que seria a obra maior de sua vida: a Constituição de 1988.

 Hoje, o Brasil se despede de um homem que, aos 100 anos, não estava apenas testemunha, mas protagonista ativo das grandes transformações civilizatórias que moldaram a consolidação do Estado Democrático de Direito no país.

 A ele, minha gratidão sem limites.



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