Brasil e Venezuela-o que é fato, o que é mito e qual lado da política brasileira mais se aproxima do modelo bolivariano
Brasil e Venezuela: o que é fato, o que é mito e qual
lado da política brasileira mais se aproxima do modelo bolivariano?
by José Berlange Andrade
No debate político brasileiro, uma pergunta aparece como
bordão, quase sempre mais usada para atacar do que para esclarecer: “Qual
partido quer transformar o Brasil em uma nova Venezuela?”
A questão é legítima — mas a forma como costuma ser tratada
está mais próxima da manipulação que da persuasão. E os motivos são obviamente
eleitoreiros, como o são transparentes em todas as incongruências e maluquices
que assolam o cotidiano no FEBEAPA das redes sociais da WEB.
Primeiro, a pergunta assertiva - o que realmente define estruturalmente o regime venezuelano? A Venezuela não se tornou autoritária por causa de um slogan, de um programa social ou de uma visão econômica isolada. Sua transformação estrutural decorreu da combinação de três fatores poderosos:
Primeiro pilar: Grupos armados civis subordinados ao governo - Chávez criou e Maduro expandiu milícias civis armadas — grupos politicamente orientados para defender o regime e intimidar opositores. Quem gostou e elogiou esta medida adotada pelo bolivarianismo não foi Lula. Foi Bolsonaro! (no Youtube: https://berla.short.gy/Y2LFG9 )
Essa fusão entre mobilização popular e força armada tornou-se o principal pilar
de sustentação política do regime venezuelano.
A economia transformou-se em ferramenta de controle social e político, não em
campo aberto ao desenvolvimento das forças produtivas.
No terceiro pilar, a erosão sistemática da separação de poderes - Judiciário
enfraquecido, Legislativo cooptado e Forças Armadas politizadas completaram o
ciclo de concentração marionetista do poder institucional.
A democracia permaneceu no papel, mas perdeu efetividade: as
instituições do Estado passaram a atuar como aparelhos apêndices do partido e
da ideologia bolivariana.
É, exatamente, esse tripé — força armada paraestatal, economia estatizada
rentista e destruição dos freios e contrapesos — que define o padrão
bolivariano!
Vamos mirar agora na nossa realidade, fazendo a comparação friamente, objetivamente,
sem paixões e nem cegueiras ideológicas.
Mas, ao aplicar os critérios objetivos do tripé identificado acima, as diferenças
e semelhanças ficam mais claras — mais confiáveis e mais desconfortáveis.
Principalmente, úteis para quem se guia por slogans e chavões de WhatsApp.
Características da plataforma comportamental do PT - movimentos sociais, não
milícias; estatismo moderado e gastos com direitos sociais; respeito
institucional e busca de consenso.
O PT se apoia em sindicatos, movimentos estudantis, setores artísticos,
intelectuais, religiosos reformistas e organizações de base — nenhum deles
armado.
Embora defenda presença estatal em setores estratégicos, nunca operou e nem propôs
um modelo estatizante e rentista como o venezuelano. Ao contrário, seu
ministro da economia, Haddad, é acusado de ser neoliberal por tendências à radicais
do partido.
Sobretudo e principalmente: aceitou derrotas eleitoral em 2018, cooperou com a alternância
da gestão e não tentou subordinar e manietar o STF, o TSE ou Forças Armadas.
Características da plataforma comportamental do PL/Bolsonarismo: base armada civil e tensão direta com instituições; autoritarismo e repressão político-social com entreguismo econômico-financeiro.
O bolsonarismo, articulado hoje politicamente pelo PL, construiu parte de sua base em ¹) CACs, clubes de tiro e civis armados; ²) aproximação com segmentos militares e fascistas; ³) discursos reiterados contra STF, TSE e Congresso; 4) episódios de contestação e ruptura institucional, inclusive no pré e no pós-eleição de 2018 e de 2022.
Essa dinâmica não replica o modelo econômico da Venezuela — que é estatizante e rentista - mas se aproxima do modelo de erosão institucional, que é o núcleo do autoritarismo venezuelano.
Resultado - o bolsonarismo apresenta semelhanças estruturais, especialmente na tentativa de enfraquecer instituições e mobilizar base civil armada.
Proposição - menos mito, mais realidade! Menos eleitoralismo, mais governança! Menos ideologia autoritária, mais Brasil Livre e Soberano!
Quando analisamos e concluímos sem paixões, a resposta à pergunta do ponto de partida surpreende a quem foi treinado a se orientar por slogans.
O campo político que mais se aproxima, por semelhança estrutural, do modelo venezuelano não é o PT lulista – é o PL bolsonarista!
Não porque o PL imite o socialismo ou estatize a economia (coisa que nem o PcdoB e o PCB defendem hoje). Mas porque operou — e ainda opera — movimentos que lembram o coração do modelo venezuelano: ¹pressão sobre instituições, ²proximidade político-militar e ³estímulo a civis armados como base de sustentação.
Em uma democracia, reconhecer fatos é sempre o primeiro
passo para preservá-la e protegê-la.
E, no Brasil de hoje, isso é mais importante do que nunca. Retorno a 1964
é uma ilusão: o horizonte de chegada das forças reacionárias está na
Idade Média, para uns, e na Antiguidade para outros!

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